quarta-feira, julho 16

O maior mistério

Paro e não faço nada. Não acontece nada. Não penso em nada. Ouço o passar do tempo.

O tempo é isso. Familiar e íntimo. A sua voracidade carrega--nos. A sucessão de segundos , horas e anos lança--nos na vida, depois arrasta-nos para o nada...Vivemos nele como peixes na água. O nosso ser é ser no tempo. A sua cantiga alimenta-nos, descortina-nos o mundo, perturba-nos, assusta-nos, acalenta-nos. O universo desenvolve o seu devir levado pelo tempo, segundo a ordem do tempo.

A mitologia hindu representa o rio cósmico na imagem divina de Shiva que dança: a sua dança sustenta o curso do universo , é o fluxo do tempo. O que há de mais universal e evidente que esse curso?

Mas as coisas são mais complicadas. A realidade frequentemente não é o que parece: a Terra parece plana, mas é uma esfera; o Sol parece vagar no céu , mas somos nós que giramos. A estrutura do tempo também não é o que parece; é diferente desse curso uniforme universal. Descobri isso com espanto nos livros de Física, na universidade. O funcionamento do tempo é diferente do que parece.

Nesses mesmos livros, também descobri que ainda não sabemos como o tempo realmente funciona. A natureza do tempo talvez seja o maior mistério. Estranhos fios o ligam aos grandes mistérios não resolvidos: a natureza da mente, a origem do universo, o destino dos buracos negros, o funcionamento da vida. Algo essencial continua a levar-nos à natureza do tempo.
Carlo Rovelli, "A Ordem do Tempo"

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