Gabriel García Márquez (1927/2014), morto hoje na Cidade do México, sempre teve uma relação muito intensa com os livros. Lembrou mesmo em “Viver para contar” que durante sua fase de pobreza em Cartagena, no início da carreira, o que mais o salvava de pensar na situação era sua voracidade de leitura. E os livros tiveram sempre presença em suas histórias.
Numa biblioteca
“O interior da casa, iluminado por duas janelas que davam
para o mar alto, estava arrumado com um preciosismo minuciosos de solteirão. Em
todo o ambiente recendia uma fragrância de bálsamos que levava a crer na eficácia
da medicina. Havia uma escrivaninha em ordem e uma cristaleira cheia de frascos
de porcelana com rótulos em
latim. Relegada a um canto, estava a harpa medieval coberta
de uma poeira dourada. O mais notável eram os livros, muitos em latim, com
lombadas intrigantes. Havia-os em armários de vidro e em estantes abertas, ou
postos no chão com muito cuidado, e o médico caminhava pelos desfiladeiros de
papel com a ligeireza de um rinoceronte entre rosas. O marquês estava
assombrado com a quantidade.
- Tudo o que se sabe deve estar nesta sala – disse
- Os livros não servem para nada – disse Abrenuncio de bom
humor".
(Trecho de “Do amor e outros demônios”)
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