O golpe civil-militar que instalou a ditadura no dia 1º de
abril de 1964 teve profundas repercussões na indústria editorial brasileira. Em
vários níveis. A mais evidente e comentada foi a censura a livros, e os ataques
a algumas editoras, com a prisão dos seus responsáveis. O mais conhecido desses
é o caso da Civilização Brasileira. Ênio Silveira era ligado ao PCB. Mas sempre
atuou com uma independência intelectual admirável, e editou muitos livros que
seriam abominados pelo partidão. Pagou caro por isso, com a bomba que foi
jogada na sede da editora e da livraria, na Rua Sete de Setembro, no Rio de
Janeiro, o incêndio do depósito e o estrangulamento do crédito. A Civilização
Brasileira é um exemplo paradigmático da resistência dos editores. Não foi a
única, mas a verdade é que a censura violenta contra a Civilização Brasileira
deixou muitos e muitos editores em estado de “auto-censura”, com raras
exceções.
É bom lembrar que o maior volume de livros censurados o foi
por conta da “moral e dos bons costumes”. Nesse sentido, o caso do Rubem
Fonseca é paradigmático. O autor fez parte do grupo civil que deu respaldo
“intelectual” ao golpe de 1964, no IPES fundado e dirigido pelo general Golbery
do Couto e Silva, o fundador do SNI. Era advogado da Light e suas credenciais
de direitistas sempre foram impecáveis. Mas, excelente escritor que é, Rubem
Fonseca mostrou um retrato cáustico da burguesia carioca, em particular em
alguns contos do Feliz ano novo. A reação foi fulminante, e o livro foi
fazer companhia aos escritos por Adelaide Carraro e Cassandra Rios.
Leia na íntegra o artigo de Felipe Lindoso, jornalista, tradutor, editor e consultor de políticas públicas
para o livro e leitura
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