O mês de abril nos traz, junto à folha nova e o verde terno
das colinas, a emoção do livro. Nos jornais e revistas, começam a aparecer
artigos de elogio ao livro, e mais do que nunca experimentamos o gozo de nos
aproximarmos de asseadas bancadas para examinar volumes e volumes até encontrar
aquele que desejávamos ou pressentíamos sua existência. Tem uma emoção singular
entrar em casa com um livro novo. Primeiro, o acariciamos com os olhos ao mesmo
tempo que sentimos seu peso. Depois, lentamente, com moroso deleite que pomos
nas coisas do espírito, iremos rompendo suas folhas sem guilhotinar para perceber
o aroma do papel e da tinta. Cada livro, como cada flor, como cada paisagem,
como cada lugar, tem seu perfume.
Recorreremos com os olhos o índice, a nota de rodapé, a data
da edição, e folhearemos aqui e ali com uma frívola antecipação da leitura tranquila.
No final, nos acomodaremos na poltrona do lugar predileto, não sem antes haver
ajustado a luz, nem excessiva nem minguada, que requer o nobre prazer da
leitura. A persiana tem aqui um papel essencial.
Entrou um livro novo em nossa casa. Sairá logo dela, talvez
pedido por um amigo a quem não podemos negar um pequeno empréstimo? Não sabem
as pessoas o que custa deixar um livro. É um sacrifício doloroso para quem dia
a dia teve o cuidado de formar sua biblioteca à custa de muitas renúncias.
Quanto é fácil pedir um livro. E como é difícil recuperá-lo. O amigo dirá muito
convencido: “Devolverei logo. Vou ler rapidinho”. Pouco amor ao livro
demonstram tais frases. É um erro crer que os livros são apenas para serem
lidos. Não. São também para ter-se, sentir sua companhia silenciosa, quem em
momento determinado pode converter-se em uma conversa íntima. Quando falta um
livro de nossa biblioteca, sentimos que há uma vazio em nossa alma, um vazio
que é ausência, e portanto dolorosa. Passa o tempo e o livro não volta a seu
lugar.
Encontramos muitas vezes com aquele amigo, que é de boa fé e
constantemente nos faz promessa de devolução. Mas tudo fica na fronteira das
palavras. O livro continua ausente. Olhamos o pequeno exército de nossa
biblioteca e vemos alguns claros em suas filas. E respeitamos os lugares dos
livros ausentes da mesma maneira que respeitamos em nossa mesa o lugar da
pessoa que está viajando. Viagens sem bilhete de volta são as dos livros. Por
isso, quando nos pedem um livro, o melhor que podemos fazer é comprar outro
exemplar para dar de presente. Por muito pouco podemos comprar a tranqüilidade
de manter sempre por perto todos os livros que pouco a poucos fomos adquirindo.
E iludir assim a nostalgia da sua ausência. Porque o livro ausente, como a
pessoa ausente, só desperta em nós um amor inefável.
Francisco Javier Martin Abril (1908-1997), escritor, cronista e jornalista espanhol - " El jardín entrevisto" (ensaios, Madri, 1953 – Editora
Nacional) - Tradução do blogue
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