terça-feira, junho 23

Em vez de ler, colorir


O anúncio do recente fechamento de livrarias no Rio — entre as quais a emblemática Leonardo da Vinci, fundada há 63 anos — é um dos reflexos da crise que afeta o setor em todo o país, motivada por fatores como inflação, retração das compras pelo governo, queda de faturamento e aumento de aluguéis.

Segundo o 3º Painel das Vendas de Livros do Brasil, divulgado esta semana pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (Snel) e pelo Instituto de Pesquisa Nielsen, o mercado editorial foi salvo pela onda dos livros para colorir, um dos maiores sucessos dos últimos tempos. Sozinhos, eles renderam mais de R$ 25 milhões entre janeiro e maio.

O estudo baseia-se no resultado do BookScan Brasil, que verifica as vendas em livrarias e supermercados. Seu coordenador, Ismael Borges, disse ao portal G1 que o mercado editorial teria efetivamente “andado para trás” sem essas obras desprovidas de palavras e vendidas como solução contra o estresse, como se os livros fossem a favor.

A febre das “cores” garantiu um salto de 8,83% no volume de faturamento: R$ 14,8 milhões entre janeiro e maio de 2014 e R$ 16,2 milhões em 2015. Os livros de colorir representam 14,21% desse total. Os destaques são “Jardim secreto”, “Floresta encantada”, “Jardim encantado”, “Mãe, te amo com todas as cores” e “Floresta celta”. Ainda vamos sentir saudades dos edificantes compêndios de autoajuda, por sua profundidade.

A triste ironia dessa história é que se passa no país em que a promessa é de uma “Pátria educadora”, que, a continuar assim, corre o risco de ser educadora sem livros para ler, só para colorir, com pessoas sem estresse, mas analfabetas.

Quando surgiu o Twitter, que exige apenas 140 caracteres para se redigir uma mensagem, o escritor José Saramago, com seu divertido pessimismo, previu que de degrau em degrau o homem ia acabar “chegando ao grunhido”.

Se ainda estivesse por aqui, certamente imaginaria um de nossos semelhantes, diante dessa nova conquista, dando grunhidos, fazendo desenhos nas paredes das cavernas e pulando de galho em galho. Um dia, quem sabe, descobriria a palavra escrita.

Sofrendo como todo mundo durante o jogo do Brasil contra a Colômbia, não entendi por que Dunga não substituiu Neymar logo aos primeiros sinais de descontrole nervoso de nosso craque. A medida serviria para preservá-lo e à própria equipe, já que era evidente que ele não tinha condições emocionais (nem técnicas) de continuar em campo. O resultado foi essa coisa rara que é receber cartão vermelho e ser expulso depois de terminada a partida, além da suspensão.

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