O Círculo, que tinha como sócios as editoras Abril e Bertelsmann, chegou a 250 mil sócios em 1975, 500 mil em 1978 e 800 mil em 1983, presente em 2.850 municípios que eram atendidos por uma rede de 2.600 vendedores. Em 1982 foram vendidos 5 milhões de exemplares de livros, segundo dados do historiador Laurence Hallewell, em O Livro no Brasil: Sua História, que acaba de ganhar uma edição de bolso pela Edusp. O maior sucesso do Círculo foi o livro As Melhores Receitas de Cláudia, com 200 mil exemplares vendidos entre 1975 e 1990.
O Livro no Brasil, originalmente uma tese de doutorado concluída em 1975 na Inglaterra (quando pouco se escrevia sobre história editorial) e publicado em inglês em 1982 pela The Scarecrow Press (com o título de Books in Brazil. A history of the publishing trade), foi primeiro lançado no Brasil em coedição da Edusp e T. A. Queiroz em 1985; depois, teve uma segunda edição revista e ampliada (e ilustrada) pela Edusp em 2005 (é curioso como a palavra publishing trade, remetendo a comércio e negócio editorial, ficou de fora do título brasileiro desde a primeira edição em português).
Entre as várias qualidades a destacar da pesquisa de Hallewell pode-se citar a sua abrangência realmente nacional, pesquisando o movimento editorial nos mais diversos estados e regiões brasileiras; o extensivo e didático uso de dados numéricos e estatísticos sobre tiragens, circulação, exportações e importações, custos, preços, com um tratamento cuidadoso de história econômica e, igualmente, a relação entre as editoras, como empresas, e sua produção intelectual e literária.
Quanto ao Círculo do Livro, sua receita editorial se sustentava em vários pilares interessantes: os livros eram muito bem acabados graficamente, com capa dura e ótimo design; havia opções realmente para todos os gostos e sempre novidades em todas as seções da revista, inclusive lançamentos em parceria com outras editoras, e a revista era bem produzida e com boas resenhas dos livros.
Tenho memórias muito precisas dos anos 1970, de adolescência, quando meu irmão era sócio. A revista era trimestral e, se não me engano, o sócio escolhia dois livros por trimestre: um de livre escolha e outro dentro de uma lista pré-selecionada, mas que evidentemente era diversificada (não sei se este sistema vigorou por toda a existência da editora). Eu ficava dias folheando a revista e fazia também as minhas encomendas, em especial livros de espionagem, romances policiais e políticos. A chegada do vendedor, com as encomendas e o novo exemplar da revista, era sempre um acontecimento, e imagino o impacto que tinha em centenas de cidades sem livrarias.
Olhando rapidamente os livros à mão, encontrei quatro edições do Círculo do Livro, cujo formato compacto, capa dura e chamativa os torna inconfundíveis. São eles: Os Sobreviventes. A Tragédia dos Andes, de Piers Paul Read; Arquipélago Gulag 1918-1956, de Alexandre Soljenítsin; Conspiração Telefone, de Walter Wagner, e Mundo Jovem, os premiados do 1º concurso literário infanto-juvenil do Círculo do Livro, de 1979, com prefácio de Jorge Amado, no qual ele escreve que o Círculo do Livro é “uma impressionante realidade em nosso mercado editorial, um clube de livros que alcançou audiência jamais vista entre os leitores brasileiros”. O júri foi composto por Millôr Fernandes, Ruth Rocha, Fanny Abramovich, Antônio Aguiar Negrini e Raymond Cohen, que dirigia o Círculo do Livro. O livro incluía os vencedores da categoria 7 a 11 anos!
A trajetória do Círculo do Livro, empreendimento empresarial bem sucedido, é parte de uma história ainda pouco conhecida de clubes semelhantes, entre elas a Biblioteca do Exército – Bibliex (fundada em 1881 e atuando como editora desde 1937, segundo o seu site), que merece ser melhor estudada em sua organização e relação com os sócios. Outro clube estruturado lembrado por Hallewell foi o Clube do Livro, fundado em 1943, com uma produção de um título por mês e que atingiu 50 mil sócios em 1969.
Difícil não imaginar que clubes do livro vão ressurgir nos próximos anos, como opção aos que cultivam o livro impresso, sejam confrarias pequenas de aficionados ou clubes mais estruturados economicamente, que atendam a gostos e interesses que a oferta digital centrada nos grandes negócios não vai atender.
Roney Cytrynowicz
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