Ainda meio sonolento, quase não acreditei no que lia, mas, de pronto, dois pensamentos me ocorreram: como podemos mensurar o conhecimento para penhorá-lo? E como uma universidade poderia se desfazer de sua biblioteca?
Conforme a matéria, a UCS penhorou o acervo de 1 milhão de livros das 12 bibliotecas avaliado, pela própria instituição, em R$ 130 milhões.
Senti uma profunda tristeza em ver que mais uma vez o conhecimento e a leitura podem ser tratados apenas como valor de mercadoria. Com certeza houve um estudo do acervo e do seu valor no mercado. Mas como avaliar o valor institucional, de fruição e de formação de uma biblioteca universitária? Quantas pesquisas e estudos foram realizados entre as prateleiras dessas bibliotecas? Quantos engenheiros, médicos, jornalistas, pedagogos se utilizaram deste centro de conhecimento e informação para desenvolver suas teses e sua formação?
Eu mesmo, que fui estudante de Comunicação Social e de Literatura, recorri muito ao seu acervo. A biblioteca foi e continua sendo fundamental na minha formação!
Para o Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas do Governo Federal, as bibliotecas universitárias, “tem por objetivo apoiar as atividades de ensino, pesquisa e extensão por meio de seu acervo e dos seus serviços. Atende alunos, professores, pesquisadores e comunidade acadêmica em geral. É vinculada a uma unidade de ensino superior, podendo ser uma instituição pública ou privada. A Biblioteca Universitária dá continuidade ao trabalho iniciado pela Biblioteca Escolar”.
Então, sigo me questionando, como a UCS pode penhorar suas bibliotecas? Caso a universidade perca o processo de dívida sobre filantropia, os alunos dos mais de 100 cursos ficarão sem ter onde realizar as suas pesquisas e estudos complementares?
Segundo os dados da pesquisa realizada pelo Instituto Paulo Montenegro e a ONG Ação Educativa, em parceria com o Ibope, sobre o Indicador de Alfabetismo Funcional - INAF, revelam que somente 22% da população que chegou ou concluiu o curso superior em uma universidade está nível pleno de alfabetismo. Entre os outros alunos, 42% se encontram no nível intermediário e 32% no nível elementar. Esse é o panorama dos cidadãos brasileiros que ocupam e ocuparão diferentes posições / funções na sociedade, incluindo os de gestores públicos que não conseguem entender o valor deste equipamento democrático. Um equipamento que pode receber os estudantes de instituições públicas ou privadas. Pode receber o filho do médico ou o filho da cozinheira. Na biblioteca não há classe social. A única classificação que se permite em uma biblioteca é a organização por área de conhecimento. Mesmo assim, essa sistematização nunca deve ser muito estanque.
A cada dia tenho despertado com notícias que corroboram com a ideia de que a biblioteca é descartável! Como notícias mostrando o descaso de instituições públicas, privadas e governos, independentes de partidos políticos, sobre estes equipamentos que contribuem para o desenvolvimento de uma sociedade que questiona, que pensa, que participa, que argumenta.
Se uma biblioteca universitária colabora para colocar bons profissionais no mercado de trabalho com capacidade de criar, criticar e transformar, o que acontece nas universidades que não tem bibliotecas ou estão com suas bibliotecas em mal estado de conservação, com acervo defasado e profissionais desqualificados?
Conheço a biblioteca da UCS e sei que ela está em bom estado de uso, com bons equipamentos, acervo atualizado e bons profissionais. Isso só faz aumentar a minha preocupação por saber que ela está penhorada e por isso pode deixar de atender a tantos alunos.
A universidade até poderá sanar sua dívida com o Governo Federal, mas é impossível pagar uma dívida contraída com a sociedade por deixar de dar acesso a uma biblioteca.
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