Alexandre François Bonnardel |
O Manel costuma dizer que, lá em casa, eu sou a leitora e ele o bibliófilo – e talvez tenha razão. Não tenho espírito de coleccionadora e o que amo acima de tudo nos livros é o texto. Claro que não sou indiferente a uma bonita edição de determinado livro ou a uma colecção bem feita obedecendo a um tema ou estratégia. Mas do que gosto mesmo é de ler e não me importaria de alienar parte da minha biblioteca se tivesse, por exemplo, de mudar para uma casa mais pequena e soubesse que não voltaria a ler esses livros. Não sou também, regra geral, agarrada às coisas, que substituo sem grandes desgostos, ou sequer possessiva. Talvez por isso me custe entender porque há malucos que pagam fortunas para possuir uma peúga de John Lennon; talvez por isso me custe ver agora que os herdeiros do meu poeta favorito – o irlandês William Butler Yeats – vão leiloar centenas de cartas de amor (incluindo 130 manuscritas enviadas à primeira namorada), livros, quadros, móveis e objectos pessoais do escritor que venceu o Prémio Nobel da Literatura em 1923. A mim, que o venero, nunca me passaria pela cabeça possuir os seus originais (contentar-me-ia em lê-los), e menos ainda a poltrona onde terá posto o rabo. Mas a Sotheby’s vai de certezinha absoluta facturar – e muito, porque nem todos somos iguais e há quem goste simplesmente de possuir.
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