Embora tivesse trinta anos, Bertha Young ainda passava por momentos como aquele, quando queria correr em vez de andar, dar passos de dança subindo e descendo da calçada, brincar de rolar um aro, jogar algo para cima e apanhar no ar ou ficar parada e apenas rir – à toa –, simplesmente rir à toa.
O que fazer se você tem trinta anos e, ao dobrar a esquina da própria rua, de repente é tomada por uma sensação de êxtase, êxtase absoluto! – como se tivesse engolido um pedaço luminoso daquele sol da tarde e que ardesse em seu peito, irradiando uma chuvinha de centelhas em cada partícula, até cada uma das pontas dos dedos...?
Ah, não há maneira de explicar isso sem soar “embriagada e confusa”? Como a civilização é estúpida! Por que ter um corpo se é preciso mantê-lo fechado em um estojo como um raro, um raríssimo violino?
“Não, isso a respeito do violino não é exatamente o que eu quero dizer”, pensou, ao correr degraus acima, tatear na bolsa em busca da chave – que ela esquecera, como sempre – e chacoalhar a caixa de correio.
– Não é bem isso, porque... obrigada, Mary. – Ela entrou no vestíbulo. – A babá já voltou?
– Sim, Madame.
– E as frutas, chegaram?
– Sim, Madame. Chegaram.
– Pode trazer as frutas para a sala de jantar? Vou fazer um arranjo antes de subir.
A sala de jantar estava escura e bem fria. Ainda assim, Bertha tirou o casaco; não podia suportar aquele aperto nem mais um instante, e o ar frio envolveu seus braços. Mas em seu coração ainda permanecia aquele local luminoso e brilhante – aquela chuva de pequenas centelhas espalhando-se. Era quase insuportável. Ela quase não ousava respirar por medo de intensificá-la, contudo, respirava, respirava profundamente. Quase não ousou olhar para o espelho frio – mas olhou, e o espelho lhe devolveu uma mulher radiante, sorrindo, com lábios trêmulos, com grandes olhos escuros, e um ar de escuta, de espera por algo... divino... e ela sabia que algo aconteceria... inevitavelmente.
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