A mãe, sempre mais generosa, tinha lido tudo até a última letra e comunicou solenemente:
“Joãozinho, o seu é o melhor livro que eu já li.”
Enquanto a gratidão e o amor se misturavam no sorriso de João Pedro, sua irmã, a cruel Ivana, engoliu rapidamente um pedaço de carne para perguntar:
“O melhor ou o único, mãe?”
Dona Joana engasgou com uma garfada de arroz, tossiu, precisou tomar um gole de água e, com o rosto vermelho de indignação e falta de ar, respondeu:
“Como você é venenosa. Desde o meu tempo de escola eu sempre li muito.”
“Sei. Você leu a cartilha, o catecismo e… o que mais, mãe?”
Dona Joana fez o que sempre fazia quando a deixavam nervosa: resolveu ficar muda. Mas seus olhos lançavam faíscas contra a filha e, na hora da sobremesa, pôs menos sorvete para ela. Ivana notou:
“Isso é revanchismo, ouviu, mãe?”
A mãe e o pai, que não conheciam a palavra, olharam instantaneamente para João Pedro e, ao vê-lo sorrir, chegaram à conclusão de que a filha não tinha dito nada muito grave. Aliviados, os dois começaram a conversar sobre questões domésticas, enquanto Ivana, repondo o livro na conversa, deu sua opinião:
“Eu gostei, maninho.”
A alegria de João Pedro foi tanta que Ivana, a terrível, para não perder a fama, fez uma ressalva:
“Mas tem um porém.”
Um minuto depois, João Pedro já sabia qual era o porém: os capítulos eram longos demais, os títulos não prestavam, os diálogos eram frouxos e não havia nem suspense nem dramaticidade nas situações.
“E o resto, você achou bom?”, ele perguntou, com ironia.
“Achei, eu já disse. Mas…”
“Mas o quê? Vai dizer que tem outro porém?”
“É por isso que eu gosto de você, maninho. Você tem muita percepção.”
Enquanto o pai e a mãe se olhavam intrigados, porque não conheciam também aquela palavra, João Pedro, resignado, preparou-se para conhecer mais um defeito do seu romance.
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