Era um homem desatento. Havia vivido muitas décadas, mas conhecia pouco, muito pouco, da vida. Acreditava nos livros. Achava certo tudo que lia neles, mesmo que uns contradissessem os outros. Se havia contradição, deveria existir motivo para isso. Não achava necessário olhar para o sol, para o mar, para a lua. Tinha olhado para eles pelo menos uma vez na vida e sabia, pelos livros, o que eram e como eram. Vivia assim. Um dia, aceitando um convite para almoçar na casa de uma amiga, viu uma flor. Ia passar por ela sem lhe prestar atenção, quando a amiga disse: "É linda, não é? É o tesouro do meu jardim." Ele quis saber que flor era aquela e, quando a amiga, espantada, lhe perguntou se jamais tinha visto uma rosa, ele respondeu: "Provavelmente nunca." Olhou agora com interesse para a flor. Aquilo então era uma rosa, ele se maravilhou, porque nenhum livro o tinha preparado para aquela beleza. Por alguns dias sentiu uma doçura nova, uma ternura que ele nem sabia chamar por esse nome. A lembrança da rosa, seu brilho, seu perfume e sua delicadeza o deixaram inquieto por alguns dias. Mas a amiga nunca mais o convidou e, dali a algum tempo, se ele fosse definir uma rosa, repetiria o que lhe tinham dito seus livros.
Raul Drewnick
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