terça-feira, agosto 7

Patchwork

Emmanuel Garant Québécois 

PROFECIA

Previu Nostradamus
Que seríamos grandes, muito grandes.
Onde foi, quando foi que falhamos?

CARNÊ FOICE

Morrer um pouco por dia,
Morrer um pouco por mês,
Sem pressa, sem correria,
Morrer um pouco por vez.
TERCEIROS


Que os olhos alheios,
se não nos tornarem mais belos,
não nos tornem mais feios.

EGO

Mais que você, quem
se orgulhará do que tem?
Você se arrasta como um verme
e proclama que ninguém
se arrasta melhor que você.

EM DEFESA DA INVEJA

Senhor, somos nós ou vós
quem a inveja semeia?
Vós nos criastes, Senhor,
para aplaudir a glória alheia?

DESSINTONIA

Em mim, por um lance da ironia,
a fase da reflexão não coincidiu
com a idade da sabedoria.

ROMANTISMO

Antigamente havia também ladrões
mas furtavam só beijos
e roubavam só corações.

HIGIDEZ

Que esplêndido é o nosso exemplo.
Respiramos ainda, e andamos,
Embora nunca ao mesmo tempo.

LUÍSES

Quem nasce para Luís Ferrabrás
ou para Luís Ladravaz
não chega nunca a Luís Vaz.

A VERDADE

Poesia, propriamente, nenhuma.
Fiz só poses de poeta
No tempo em que todos
Precisavam ter uma.

POEMINHA URBANO

Atirado à correnteza, o sofá,
Sem remos e sem destreza,
Não sabe se sobe ou desce o rio
Ou se escapa por um desvio.

O TRUNFO

Sim, o que te poupou da morte
foi a tua poesia –
se é esse o nome que dás
a essas algaravias rimadas
com que os deuses
pacificam a dispepsia.

TALIÃO

Escrevamos, por que não?
Nossos amigos escrevem,
Nossos inimigos escrevem.
Por que abdicaremos nós
Ao direito de retaliação?

MARASMO

Todos os ismos
de tantos modernismos
são hoje um só
comodismo.
Que instituições destruir,
que revoluções deflagrar?
Nas outras vezes havia burgueses
para espantar.

LINHAGEM

Dos cisnes parnasianos
dois e meio em três
dançavam balé
e falavam francês.

MODERNIDADE

Nada mais hoje é ocasional.
Tudo é planejado, tudo marcado,
Até o sexo casual.

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