De sua poesia, disse Manuel Bandeira que “é rica de símbolos e metáforas”, enquanto Carlos Drummond de Andrade observou que “se faz sentir e amar pela concentração e o poder de síntese.” Adonias Filho destaca que “os valores constantes são humanos e, em conseqüência, universais e eternos: a morte, o medo, o tempo, o nada, a memória. Circunscrita a esses valores, invulnerável a qualquer exterioridade, a poesia de Telmo Padilha pode converter-se em um marco que congregue toda a sua geração.”
Encontra-se nessa poesia a constituição de um discurso reflexivo, que informa proposições doloridas na clave das indagações existenciais. Perguntas sem resposta que se manifestam sobre essa difícil e enigmática travessia do viver, exposta aos olhos como difícil de aceitar, com sua problemática impregnada da vida, morte, solidão, incomunicabilidade e infância sem retorno. Essa poesia de aparência fácil resiste dentro de muros em que a criatura humana se vê cercada de angústia em função de circunstâncias matizadas pela fugacidade do tempo. Nessa travessia que aloja nos ouvidos cantos roucos ritmados de absurdos, o poeta procura sempre se mover dentro de atitudes críticas. Dessa atmosfera vertiginosa, na aventura que comporta abismos e enigmas, pobreza, sofrimento, insônia, apresenta-se com esse poder de tocar nos seres e coisas com profundidades e larguras. Retira sensibilidades e reflexões entre cortinas espessas da existência, densidade na insensatez do mundo, riqueza na metáfora dolorida sempre hóspede de assombro, que faz de Telmo Padilha um poeta com todas as essencialidades de que são dotados os bons poetas. Não preciso mais dizer que é um dos poetas de minha predileção.
Com a tristeza que molha meus olhos agora, tento quebrar a saudade, conversando e cantando com o poeta e amigo:
– Ah, Telmo Padilha/ Fale-me que sem a poesia/ o sol não pinta os desertos/ Com as cores da manhã./ O dia não entardece/ Nos braços do ocaso./ Com a razão e a emoção/ Não se estende a palavra/ Pelo vazio do vasto mundo./ A vida é mais pobre/ Sem esse canto agudo/ que em ti é feito exausto/ Como vamos perceber/ Teus passos de agonia, / que ao vento estremecem/ e te escutas nos desvãos?/ Ah, Telmo Padilha/ Fale-me de tua cidade, / A nossa querida Itabuna,/ De todos nós em teu grito,/ De Hélio, Valdelice,/ Firmino, Florisvaldo, / Cada um no seu canto/ Remoendo o seu tanto/ Fale-me dessas ruas,/ De fato não são ruas, /É uma mesma rua /Que começa solitária/ E termina solitária / Nas vestes de teu ódio,/ Medos e incertezas/ Conquanto seja abrigo,/ Música cortante da paixão./ No teu dia cor de sombras/ Só podemos amar com dor,/ na forma autêntica da dor/ Onde há setembros/ Que vêm e somem/ Sem saber para onde vão./ Fale-me de teu voo/ Nessa viagem duvidosa/ Que nos oprime de aflição.Cyro de Mattos
Viva a poesia!
ResponderExcluir