segunda-feira, setembro 21

A jardinagem como terapia e um modo de fazer política

Não entendo quem não tem uma plantinha para cuidar. A sensação é de aridez ao entrar em uma casa na qual não há nem uma jiboia num vidrinho com água dando um toque de verde, nem sequer onze-horas florindo num vasinho...
A mais remota lembrança que tenho cuidando de plantas ornamentais é de minhas latinhas no saguão da casa da vovó, onde pontificava um caramanchão com uma frondosa videira de uvas roxas – fui criada comendo uvas no médio sertão do Maranhão, lá em Graça Aranha. Um luxo!

Ainda gosto de plantar em latinhas de conservas, até de sardinha, massa de tomate, leite em pó, por aí. Hoje está na moda ter jardim de latas – há uma parede de latinhas em meu jardim; e outra de vasinhos de caixas de leite, de suco e de garrafas PET – lindezas recicladas!

Uma lata no sertão de minha meninice era uma raridade, a não ser as de querosene, de 20 litros, bem comuns, pois não havia luz elétrica. Nas vendas, entrava-se numa fila para obter uma lata vazia de querosene ou de biscoito. Eu estava na fila de vários quitandeiros, e, quando chegava em casa com uma lata, vovó bradava: “Fátima, olha a água!”. Traduzindo: eu teria de puxar água no poço para minhas plantas. Era assim a vida no sertão: para ter um jardinzinho, o trabalho era pesado!

Como escrevi em “A filosofia da arte e o valor terapêutico de cuidar do bonsai”: “Não vivo sem um jardinzinho todo meu. É um conforto mental regar minhas plantas. Relaxo, renovo... Ora, como não ter uma planta para cuidar? Eu não consigo. Tê-las é uma terapia, um relax... Na época do modismo das samambaias, cheguei a ter muito mais de 50 xaxins num caramanchão diante da minha casa, de fachada mediterrânea, na Quinta de Ouro, em Imperatriz (MA), sombreados pela trepadeira lágrima-de-cristo. Era um oásis estender a rede debaixo delas e ficar lendo, lendo... até dormir. Pena que aproveitei pouco, pois era uma época em que eu trabalhava demais...

“Não gosto de comprar plantas ‘prontas’; o meu prazer é fazer mudas e vê-las crescer, florescer... Não entendo alguém não ter um vasinho em casa! Casa sem plantas é a imagem do deserto. Acho que, de tanto furdunço de plantas em casa, fiquei atônita quando fui pela primeira vez às casas de minhas filhas: nenhum verdinho! Ah, reclamei, pois achei um absurdo! ‘Ah, mãe, aqui é tão minúsculo, e a senhora ainda quer entupir de plantas? Ô mania de roça!’.
“Não é propriamente mania de roça. Por outro lado, é mania sertaneja... E as minhas filhas não são sertanejas... Não sabem quanto as sertanejas correm léguas atrás de qualquer latinha para plantar, ter um pé de ‘fulô’... ‘Mamãe, meus brinquedo/ Meu pé de fulô?/ Meu Deus, meu Deus/ Meu pé de roseira/ Coitado, ele seca...’ (Patativa do Assaré, na voz de Luiz Gonzaga)”(O TEMPO, 8.12.2012)
Um jardim meu é sempre mutante, porque o meu dom de paisagista é inquieto demais. Amo jardins com plantas antigas, com ares rústicos. Agora, em meu cafofo, estou mexendo mais com suculentas e cactos, dos míni ao mandacaru, e tentando cultivar bonsais, uma paixão!

Pratico jardinagem revolucionária. Criei um jardim em minha rua, quase meio quarteirão – onde era um lixão e fiz uma matinha de girassóis. Virou um oásis, onde há desde uma pérgula de amor-agarradinho e lágrima-de-cristo à Minibiblioteca Livre Inacim & Clarinha – sem falar na recuperação do ecossistema com abelhas, borboletas, beija-flores e uma infinidade de passarinhos, até pipira azul! Não há o que pague ouvir crianças chamando de “pracinha da tia Fátima” e jovens fotografando num lugar tão belo e aconchegante.

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