segunda-feira, setembro 21

Assim começa o livro...

O ateliê estava inundado pela fragrância opulenta das rosas, e quando a brisa suave de verão soprava em meio às árvores do jardim, penetrava pela porta aberta o aroma denso do lilás, ou o perfume mais delicado do espinheiro de floração cor-de-rosa. Da extremidade do divã de alforjes persas em que estava deitado, fumando, como era seu costume, inúmeros cigarros, Lord Henry Wotton apreendia apenas um vislumbre as flores coloridas e doces como mel do laburno, cujas ramagens trêmulas mal pareciam suportar o peso de uma beleza flamejante como aquela; e vez ou outra as sombras fantásticas de aves em voo adejavam por trás das longas cortinas de seda tussa estendidas diante
da imensa janela, produzindo uma espécie de efeito japonês fugaz, fazendo com que ele pensasse nos pálidos pintores de rosto de jade de Tóquio, que, por meio de uma arte necessariamente imóvel, buscam transmitir a sensação de rapidez e movimento. O murmúrio obstinado das abelhas que abriam caminho pela grama alta não aparada, ou que circulavam com insistência monótona em torno dos chifres poeirentos dourados da madressilva espalhada, parecia tornar a imobilidade mais opressiva.

O ruído surdo de Londres era como uma nota de bordão de um órgão distante.
No centro da sala, preso a um cavalete armado, havia um retrato de um jovem de beleza extraordinária, e diante dele, a uma pequena distância, estava o próprio artista, Basil Hallward, cujo súbito desaparecimento havia alguns anos tinha causado, à época, uma grande comoção popular e originara muitas conjecturas estranhas. 

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