terça-feira, setembro 15

Assim começa o livro ...

Nossa época é essencialmente trágica, por isso nos recusamos a vê-la tragicamente. O cataclismo já aconteceu e nos encontramos em meio às ruínas, começando a construir novos pequenos habitats, a adquirir novas pequenas esperanças. É trabalho difícil: não temos mais pela frente um caminho aberto para o futuro, mas contornamos ou passamos por cima dos obstáculos. Precisamos viver, não importa quantos tenham sido os céus que desabaram.

Era esta mais ou menos a posição de Constance Chatterley. A guerra derrubara o teto sobre sua cabeça. E ela percebera que todos precisamos viver e aprender. Casou-se com Clifford Chatterley em 1917, quando ele veio passar um mês de folga do exército em casa. Tiveram um mês de lua de mel.

Em seguida ele voltou para Flandres, mas foi embarcado de volta para a Inglaterra seis meses depois, mais ou menos em frangalhos. Constance, sua esposa, tinha vinte e três anos; ele, vinte e nove. Seu apego à vida foi extraordinário. Não morreu, e seus fragmentos parecem ter readquirido a coesão. Permaneceu dois anos nas mãos dos médicos. Depois disso, pronunciaram sua cura e ele pôde voltar à vida, com a metade inferior do corpo, da cintura para baixo, paralisada para sempre.

Isso aconteceu em 1920. Voltaram, Clifford e Constance, para a casa dele, chamada Wragby Hall, a “sede” da família. O pai dele morrera, Clifford era agora baronete, sir Clifford, e Constance era lady Chatterley.

Vieram assumir os cuidados da casa e começar a vida de casados na residência um tanto abandonada da família, com uma renda consideravelmente inadequada. Clifford tinha uma irmã, mas ela partira de casa, e não havia nenhum outro parente próximo. O irmão mais velho morrera na guerra. Aleijado para sempre, sabendo que jamais poderia ter filhos, Clifford voltou para casa nas enfumaçadas Midlands para manter vivo o nome Chatterley enquanto pudesse.

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