quinta-feira, setembro 17

Os 60 anos de 'Lolita'

James Mason e Sue Lyon em 'Lolita', de Stanley Kubrick
“Lolita, light of my life, fire of my loins. My sin, my soul” (“Lolita, luz da minha vida, fogo da minha carne. Minha alma, meu pecado” – em tradução de Sergio Flaksman). São as palavras mágicas com que Vladimir Nabokov abre o mundo de Lolita, um dos romances mais perturbadores e cativantes da literatura, e um clássico universal. Uma obra cuja beleza aumenta com o tempo. Como aumentam as dúvidas sobre se hoje, sessenta anos depois de sua primeira edição, seria publicada em um mundo que parece retroceder em certos aspectos. Mas, o que a literatura teria perdido se Lolita não tivesse existido?

Sua publicação hoje seria difícil, segundo alguns escritores, pensadores e críticos. Até mesmo sua condição de clássico cambalearia, explica o poeta Juan Antonio González Iglesias, “porque os inimigos da liberdade são muitos, e com um grande poder. Na longa luta entre a liberdade e o puritanismo, Lolita está do lado da liberdade”. Uma obra, segundo o filósofo Manuel Cruz, que “mostra que a aparência de liberdade e de tolerância sexual e amorosa em geral na qual vivemos não vem a ser outra coisa, no final das contas, que a substituição dos velhos tabus visíveis por outros novos, invisíveis por representar a obviedade emergente”. Nabokov, garante a escritora Marta Sanz, “convidou a refletir sobre o significado do obsceno e sobre nossa própria hipocrisia”.

Na longa luta entre a liberdade e o puritanismo, 'Lolita' está do lado da liberdade
González Iglesias
Para além do desejo, mais para o lado do amor, rodeado de obsessão e dor, o protagonista do romance, um escritor chamado Humbert Humbert, torna público seu “pecado” de amar e desejar uma adolescente com a arte da literatura até criar, segundo o escritor Mario Vargas Llosa em 1987, uma “das mais sutis e complexas criações literárias de nosso tempo”.

Rejeitada por quatro editoras – só The Olympia Press, um pequeno selo editorial parisiense especializado em obras eróticas, se atreveu a publicá-la, em 15 de setembro de 1955–, três anos depois apareceu nos Estados Unidos. Lolita nasceu quase maldita. O próprio Nabokov (1899-1977) um dia lançou o original ao fogo e sua esposa, Vera, o resgatou; mais tarde, depois de chegar às livrarias, provocou uma onda de escândalo e acusações por desafiar tabus e pôr a sociedade ante o espelho de desejos obscuros. Sua popularidade aumentou quando Stanley Kubrick lhe fez justiça no cinema, em 1962, com roteiro do próprio escritor russo.

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