Olhamos uns duzentos livros até nos convencermos. Cerca de trinta tinham sido escritos por mulheres. Eu não podia acreditar.
Naquele momento eu decidi que, por um tempo, leria apenas livros escritos por mulheres. Eu achei mais fácil do que me por a averiguar se um autor ou autora é gay, negro ou transexual; para saber se é mulher, o nome costuma bastar. As mulheres são metade da população (além disso, “minha” metade!); leio cinquenta livros por ano, como é possível que eu quase não leia nada escrito por mulheres?
María Barrios |
E lá fui eu para a minha pilha de livros a ler e primeiramente retirei os livros escritos por uma autora (12 de 40). Em seguida, pedi recomendações no Twitter. E a partir daí comecei, simplesmente, a prestar atenção e anotar nomes.
Já se passaram seis meses e li cerca de vinte títulos escritos por mulheres. Não tenho nenhuma data prevista para terminar essa pequena experiência, ainda falta tanto por ler! E isso não me custou trabalho algum. No começo pensei que seria muito difícil abrir mão dos meus autores favoritos, ou que me custaria encontrar boas autoras nos gêneros que eu mais gosto, como ficção científica; não aconteceu nada disso. Não sinto que esteja renunciando a algo, mas sim que se abriu diante de mim um panorama totalmente novo que me surpreende a cada dia.
Minha descoberta foi, sem hesitação, Alice Munro (que vergonha, “descobrir” uma vencedora do prêmio Nobel de 85 anos); passei todo o verão imersa em seus relatos, extremamente comovida com histórias que pensava que não poderiam me interessar de forma alguma (O Canadá rural do período entre guerras? Que chatice!). Na ficção científica, a vietnamita Aliette de Bodard escreveu-me um mundo pungente de naves espaciais astecas e colônias chinesas na América do Norte. As super-heroínas de quadrinhos de G. Willow Wilson e Kelly Sue DeConnick me fizeram rir e me deliciar como uma adolescente. Eu tenho, de repente, um punhado de escritoras novas que vou recomendando com entusiasmo a todo mundo por aí, e quando vejo algum título de um escritor que eu gosto, penso, “Bah! Haverá tempo...” e volto à minha mulherada.
(Cuidado, as escritoras não são seres de luz pura e também fazem livros péssimos, como a trilogia Divergente, que torna Jogos Vorazes uma obra-prima literária...).
Mas existe realmente uma diferença entre a literatura escrita por homens e por mulheres? Acho que sim. Para começar, parece que as mulheres escrevem mais sobre mulheres. Há mais protagonistas do sexo feminino, e como há mais, são mais variadas, e como são mais variadas, são mais interessantes, mais humanas, mais de verdade. Estamos acostumados a que os protagonistas de quase tudo sejam homens e superamos esse detalhe para nos identificar com nossos personagens favoritos, mas é tão, tão refrescante abrir um livro e encontrá-lo cheio de mulheres de todos os tipos!
Teria encontrado todas essas novas abordagens, novos mundos, pontos de vista de personagens novos, simplesmente obrigando-me a ler autores novos, sem importar se são homens ou mulheres? A intuição me diz que não, que há algo mais, e penso continuar a ler até isso ficar claro. Em todo caso, não quero perder aquilo que metade da população tem a contar, e depois de tantos anos lendo homens com apenas algumas exceções, creio que posso continuar a ler escritoras por muito, muito tempo.
Ainda estou pendente de ampliar um pouco a experiência e começar a prestar atenção aos outros aspectos mencionados no início. Agora eu tenho certeza que valerá a pena afastar-me um pouco mais dos mesmos livros e autores de sempre e tomar emprestadas outras perspectivas com as quais observar o mundo.
Minha descoberta foi, sem hesitação, Alice Munro (que vergonha, “descobrir” uma vencedora do prêmio Nobel de 85 anos); passei todo o verão imersa em seus relatos, extremamente comovida com histórias que pensava que não poderiam me interessar de forma alguma (O Canadá rural do período entre guerras? Que chatice!). Na ficção científica, a vietnamita Aliette de Bodard escreveu-me um mundo pungente de naves espaciais astecas e colônias chinesas na América do Norte. As super-heroínas de quadrinhos de G. Willow Wilson e Kelly Sue DeConnick me fizeram rir e me deliciar como uma adolescente. Eu tenho, de repente, um punhado de escritoras novas que vou recomendando com entusiasmo a todo mundo por aí, e quando vejo algum título de um escritor que eu gosto, penso, “Bah! Haverá tempo...” e volto à minha mulherada.
(Cuidado, as escritoras não são seres de luz pura e também fazem livros péssimos, como a trilogia Divergente, que torna Jogos Vorazes uma obra-prima literária...).
Mas existe realmente uma diferença entre a literatura escrita por homens e por mulheres? Acho que sim. Para começar, parece que as mulheres escrevem mais sobre mulheres. Há mais protagonistas do sexo feminino, e como há mais, são mais variadas, e como são mais variadas, são mais interessantes, mais humanas, mais de verdade. Estamos acostumados a que os protagonistas de quase tudo sejam homens e superamos esse detalhe para nos identificar com nossos personagens favoritos, mas é tão, tão refrescante abrir um livro e encontrá-lo cheio de mulheres de todos os tipos!
Teria encontrado todas essas novas abordagens, novos mundos, pontos de vista de personagens novos, simplesmente obrigando-me a ler autores novos, sem importar se são homens ou mulheres? A intuição me diz que não, que há algo mais, e penso continuar a ler até isso ficar claro. Em todo caso, não quero perder aquilo que metade da população tem a contar, e depois de tantos anos lendo homens com apenas algumas exceções, creio que posso continuar a ler escritoras por muito, muito tempo.
Ainda estou pendente de ampliar um pouco a experiência e começar a prestar atenção aos outros aspectos mencionados no início. Agora eu tenho certeza que valerá a pena afastar-me um pouco mais dos mesmos livros e autores de sempre e tomar emprestadas outras perspectivas com as quais observar o mundo.
Entrei 2016 com a meta #leiamulheres em mente. Inclusive criei um DESAFIO: 50 mulheres >> 50 categorias >> 50 livros (goo.gl/ETgOgM) no GoodReads, quem quiser participar será bem-vindo. ;)
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