sexta-feira, maio 8

A antiga livraria

É possível que entre os meus leitores haja alguns poucos que ainda se recordem de uma antiga livraria, que existia, há uns anos, nas imediações de Covent Garden: digo poucos, porque certamente para a grande maioria da gente, muito escasso atrativo possuíam aqueles preciosos volumes que toda uma vida de contínuo labor havia acumulado nas empoadas estantes do meu velho amigo D. Ali não se encontravam tratados populares, nem romances interessantes, nem histórias, nem descrições de viagens, nem biblioteca para o povo, nem leitura recreativa para todos. O curioso, porém, é que podia descobrir ali uma rica coleção de obras de Alquimia, Cabala e Astrologia, que um entusiasta conseguiu reunir e que, em toda a Europa, talvez, era a mais notável em seu gênero. O proprietário tinha gasto uma verdadeira fortuna na aquisição de tesouros que não deviam ter saída. Mas o velho não desejava, na realidade, vendê-los. O seu coração não se sentia bem, quando um freguês entrava em sua livraria; ele espiava os movimentos do intruso, lançando-lhe olhares vingativos; andava ao redor dele, vigiando-o atentamente; fazia carrancas e dava suspiros, quando mãos profanas tiravam de seus nichos algum dos seus ídolos.
Se, por acaso, a alguém atraía uma das sultanas favoritas do seu encantador harém, e o preço dado não lhe parecia ser demasiado exorbitante, muitas vezes era duplicado esse preço. Se vacilava um pouco, o proprietário com vivo prazer, lhe arrebatava das mãos a venerável obra que o encantava; se aceitava suas condições, o desespero se pintava no rosto do vendedor; e não eram raros os casos que, no meio do silêncio da noite, vinha bater à porta da moradia do freguês, pedindo-lhe que lhe vendesse, nas condições que desejasse, o livro que havia comprado, pagando-lhe tão esplendidamente o preço estipulado. Um crente admirador do seu Averrois e do seu Paracelso, ele sentia a mesma repugnância, como os filósofos que havia estudado, em comunicar aos profanos o saber que tinha adquirido.


E. Bulwer Lytton, introdução de “Zanoni – romance ocultista”, janeiro de 1842 

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