Esta vai ser uma história de terror. Vai ser uma história policial, uma narrativa de série negra e de terror. Mas não parecerá. Não parecerá porque sou eu que a conto. Sou eu que falo e por isso não parecerá. Mas no fundo é a história de um crime atroz.
Eu sou a amiga de todos os mexicanos. Podia até dizer: eu sou a mãe da poesia mexicana, mas o melhor é não dizê-lo. Conheço todos os poetas e todos os poetas me conhecem a mim. Por isso podia até dizê-lo. Podia dizer: sou a mãe e sopra um zéfiro danado há séculos, mas o melhor é não dizer. Podia dizer, por exemplo: conheci Arturito Belano quando ele tinha dezassete anos e era um menino tímido que escrevia peças de teatro e poesia e não sabia beber, mas seria de alguma forma uma redundância e a mim ensinaram-me (com um chicote ensinaram-me, com uma vara de ferro) que as redundâncias sobram e que o argumento por si só é suficiente.
O que eu posso dizer, sim, é o meu nome.
Chamo-me Auxilio Lacouture e sou uruguaia, de Montevideu, mas quando me dá a pancada, a pancada da saudade, digo que sou charrúa, o que acaba por ser a mesma coisa, embora não seja a mesma coisa, e que confunde os mexicanos e, por conseguinte, os latino-americanos. Mas o importante é que um dia cheguei à Cidade do México sem saber muito bem porquê, nem para quê, nem como, nem quando.
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