Ambientadas na periferia miserável e violenta de Nápoles no pós-guerra, contam a história de duas amigas ao longo de 60 anos, com suas trajetórias pessoais se confundindo com a história da Itália, das Brigadas Vermelhas nos anos 70 e da Operação Mãos Limpas nos 90 até Berlusconi e a decadência econômica, política e social do país.
Encontros e desencontros amorosos, ilusões e desilusões políticas, enganos e desenganos familiares e sociais, tragédias e comédias das grandezas e misérias da Itália, sexo, drogas e macarronada sob a sombra da Camorra.
Grandes livros são sempre boas notícias, mais ainda em tempos de ignorância, estupidez e intolerância, porque aliviam as dores do cotidiano e aquecem os corações oprimidos pela brutalidade da vida real, nos fazendo rir e chorar com as maravilhas e torpezas da condição humana.
Tanto sucesso abriu uma grande polêmica, não sobre a qualidade dos livros, mas porque sua autora escolheu esconder-se sob um pseudônimo, nunca foi fotografada e só dava entrevistas através da editora. Nunca deu um autógrafo ou fez uma selfie.
Justo na era da vaidade e do exibicionismo, do culto à publicidade e ao marketing, da ostentação mais vulgar, parece uma atitude nobre e corajosa renunciar às glórias efêmeras do sucesso e impedir que obra e autor se confundam — o contrário de tudo que a indústria editorial faz para vender mais livros. Ironicamente, o mistério só fez crescerem as vendas.
Finalmente, um repórter investigativo especializado em organizações criminosas usou o método infalível: seguiu o dinheiro. E descobriu que a tradutora Anita Raja e seu marido, o escritor Domenico Starnone, haviam recebido quase dez milhões de euros em direitos autorais. Mas nem eles nem a editora jamais confirmaram. E daí? Os livros não ficam melhores nem piores. Como no jogo do bicho, vale o escrito.
Nelson Motta
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