A maioria dos calendários apresenta os dias em vermelho para os feriados, e preto ou azul para os dias úteis.
Calendários explicitam algumas coisas, mas ocultam outras tantas. A etimologia pode indicar o verdadeiro significado. Calendário veio do latim calendarium, caderno para anotar as calendae, dias de pagar as contas, quando as autoridades dedicavam-se a calere, convocar, a população para o pagamento de impostos e outras contas.
O nosso calendário é gregoriano, assim chamado em homenagem ao Papa Gregório XIII, que em 1582 ajustou uma diferença do calendário juliano, do qual foram suprimidos dez dias, para fixar corretamente a data da Páscoa, das estações e de outros eventos. Assim, o dia seguinte a 4 de outubro foi 15 de outubro.
Os dias úteis, marcados na cor escura para diferenciá-los dos feriados civis e dias santificados, ainda fixam como castigo o significado do trabalho, segundo a primeira condenação bíblica que expulsou nossos primeiros pais da esfera das coisas sagradas, condenando o homem a ganhar o pão com o suor de seu rosto e a mulher a sofrer nos partos.
Nesta metáfora, Adão e Eva, expulsos do paraíso e condenados ao trabalho, foram os primeiros imigrantes e refugiados do mundo. Trabalho veio do latim tripalium, um instrumento de tortura de três paus, como indica o étimo, no qual a vítima era supliciada, como ainda o é em muitos empregos.
A incontida alegria que a todos afeta nas sextas-feiras remete a um jazigo do inconsciente de onde podemos ressuscitar por dois dias, ainda que tenhamos que voltar na segunda-feira para cumprir mais uma daquelas perpétuas parcelas semanais da mítica e antiga condenação.
As palavras que designam as cores do calendário também têm uma etimologia curiosa. Vermelho veio do latim vermiculus, minúsculo verme que fornecia o pigmento para tingir a roupa da gente fina e nobre: chefes religiosos, chefes políticos, chefes militares, às vezes englobados numa pessoa só. Seu outro nome era púrpura, molusco de difícil captura. Na antiguidade, a caça e a pesca do porphiros, seu nome grego, e da purpura, seu nome latino, eram proibidas para que somente os poderosos tivessem acesso a essa cor.
Os cardeais da Santa Sé, príncipes herdeiros da monarquia mais antiga do mundo, vestem vermelho ou púrpura, esta última a cor preferida das altas insígnias da realeza e da magistratura. De resto, tapetes vermelhos são estendidos, literal ou metaforicamente, para personalidades a honrar.
O calendário das nações lusófonas como o Brasil tem uma singularidade única: os dias da semana não homenageiam deuses pagãos desde o século VI, quando o bispo de Braga aboliu as referências ao Sol, à Lua, a Vênus e a outras divindades, que continuam homenageadas em outras línguas, de que são exemplos o Sol e a Lua no inglês Sunday e Monday.
Com exceção de sábado, do hebraico xabbat, dia do descanso, pelo latim sabbatum, nossas semanas começam sempre com o domingo, dia de feria, que pode ser festa ou feira, e segue de segunda a sexta, lembrando que todos são dias de festejar, comprar e vender.
Quem será grande em 2017? Quem foi grande em 2016? Fazemos diversas retrospectivas, mas ainda é cedo para sabermos quem teve importância no ano passado ou terá importância no ano que começou. Como disse o romancista francês Gustave Flaubert,“quem cria os grandes homens é a posteridade”.
A posteridade cria os pequenos também. Ou apequena os grandes e engrandece os pequenos.
Deonísio da Silva
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