Por muito tempo, tanto no entender do governo quanto no da maioria da população, o subsídio aos transportes públicos foi associado à negação da liberdade individual. Como os vários serviços entravam em colapso duas vezes por dia na hora do rush, Stephen se deu conta de que era mais rápido caminhar de seu apartamento até Whitehall do que pegar um táxi. Era o fim de maio, pouco antes das nove e meia da manhã, e a temperatura já se aproximava dos trinta graus. Caminhou rumo à Ponte Vauxhall, passando por filas duplas e triplas de carros resfolegantes que não tinham para onde escapar, cada um com seu motorista solitário. Pelo jeito, a busca da liberdade era mais um exercício de resignação que de paixão. Dedos com anéis tamborilavam pacientemente no metal dos tetos quentes, cotovelos cobertos por camisas brancas despontavam através das janelas abaixadas. Viam-se jornais abertos sobre os volantes. Stephen andava rápido através da multidão, através da balbúrdia sonora vinda dos carros — jingles, locutores veementes de programas matinais, noticiários, alertas de trânsito. Os motoristas que não estavam lendo ouviam estoicamente. O avanço incessante da turba nas calçadas devia transmitir-lhes uma sensação de movimento relativo, de estarem deslizando aos poucos para trás.
Com ágeis manobras para ultrapassar os mais lentos, Stephen, embora de forma quase inconsciente, permanecia como sempre à espreita de crianças, em especial uma com cinco anos de idade. Era mais que um hábito, pois um hábito pode ser abandonado. Tratava-se de uma profunda predisposição, uma silhueta que a experiência tinha gravado em sua mente. Não era exatamente uma busca, apesar de haver sido uma caça obsessiva — e por muito tempo. Passados dois anos, só restavam vestígios daquilo: agora era uma grande saudade, uma fome insaciada. Havia um relógio biológico, impiedoso em seu progresso inescapável, que fazia com que sua filha continuasse a crescer, aumentasse e enriquecesse seu vocabulário antes bastante simples, se fortalecesse, firmasse seus movimentos. O relógio, fibroso como um coração, era fiel a uma condição permanente: ela estaria aprendendo a desenhar, começando a ler, perdendo um dente de leite. Ela seria alguma coisa bem conhecida, vista como algo rotineiro. Era como se a proliferação de ocorrências pudesse erodir aquele condicional, o biombo, frágil e semiopaco, cujos tênues tecidos de tempo e acaso a separavam dele: ela está de volta da escola e cansada, o dente foi posto sob o travesseiro, procura pelo pai.
Nenhum comentário:
Postar um comentário