A crônica não é bem um gênero literário, disse Fernando Sabino. É uma coisa simples, amena. Hoje vivemos uma época de comunicação agressiva. O leitor se concentra menos em amenidades. Não há mais lugar nem para o romance tradicional, a obra de pura ficção. Pessoalmente, nunca quis ser cronista. Sempre quis ser ficcionista. Me sinto como o atleta que treinou para um recorde e, quando chega o momento, a competição foi suspensa.
Eu nunca tinha pensado na morte da crônica, disse Rachel de Queiroz. Pode ser uma questão de maré alta e maré baixa. É como o soneto. Há vinte anos, era uma heresia. Agora está voltando à moda. O fato é que nós, cronistas, não tivemos sucessores. É um gênero que se esgota, começa a se repetir e cansa. Hoje lê-se menos e pior. Ninguém tem tempo para as chamadas amenidades.
Drummond, pessimista por natureza, esquivou-se de responder à pergunta. Fazia prosa de jornal para ganhar a vida, disse. Já a Clarice Lispector foi taxativa: quando comecei, não sabia fazer crônica. E ainda não sei. Pelo menos como é feita no Brasil. Não sou cronista, mas acho que a televisão prejudicou muito a crônica. Escrevo no jornal porque preciso trabalhar.
Agora o Nelson Rodrigues: de vez em quando, chega um e mata um gênero literário. Anunciaram até a morte da palavra. A verdade é que ninguém morreu. Nem o romance, nem a poesia, nem o teatro, nem a crônica. Se o público abandonou certos cronistas, é porque nada tinham a dizer. O silêncio lhes assenta muito bem. Agora uma curiosidade: todos citaram o Rubem Braga, menos o Nelson. Existem o Rubem e os imitadores do Rubem, disse o Fernando Sabino. Crônica é um gênero que o Rubem Braga criou, disse a Clarice. Bom, e o Rubem? O Rubem resmungou qualquer coisa que ninguém entendeu.
Otto Lara Resende
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