***
O romantismo ainda às vezes, em nome dos bons tempos, vai à casa do poeta pedir-lhe que arranje vaga para um cisne necessitado.
***
E vós, tágides minhas, dizei ao Tejo que estou indo para o brejo.
***
Tenho oitenta, e acredite: eu me trocaria por dois de quarenta: desde que um fosse o Brad Pitt.
***
Era um morto tão afável que talvez aceitasse até assinar uma rifa.
***
Deus vos livre de conhecer uma mulher fatal. E Deus vos livre de, tendo conhecido uma, serdes impedidos de conhecê-la na sua inteireza.
***
Deixaram a caixa na esquina e afastaram-se lentamente, procurando manter-se alheios aos ruídos da noite, embora gatos mortos não saibam miar.
***
Os mendigos de Beckett não são metáforas. É possível sentir-lhes o cheiro e ouvir o rancor de suas vísceras famintas.
***
A família do morto capitalista colocou um cartão de crédito no seu terno de defunto.
***
É um hotel de tradição. As baratas andam pela quadringentésima décima sexta geração.
***
Um romancista velho para outro: “Precisamos falar mais de sexo em nossos livros. “O outro: “Sexo em que sentido?”
***
O velho Machado não precisava de nada além de uns braços para proclamar a irresistível força de Eros.
***
Num romance, quando sentem a possibilidade de uma cena erótica, os advérbios de intensidade logo se colocam à disposição, eriçados.
***
A esperança e os chatos são sempre os últimos que morrem.
***
O poeta ainda não terminou o primeiro quarteto e o crítico já censura a chave de ouro.
***
Recente portaria determinou que os poemas concretistas sejam vendidos não mais por unidade, mas por peso.
***
Uma rosa tem a virtude de nunca ser uma só – já ensinava Gertrude.Raul Drewnick
Nenhum comentário:
Postar um comentário