Nunca vi solitário de porta tão aberta. Neste sentido, falando de Minas, do tempo em que lá viveu, observava o recato, a quase avareza com que os mineiros tratam o forasteiro. Talvez por isto nunca se esqueceu de um almoço em Caeté, que lhe deu uma página antológica do ponto de vista das duas artes – a culinária e a literária. Sendo um temperamento encolhido, sobretudo na mocidade, gostava desse clima de intimidade que cria laços de confiança e amizade para sempre.
À primeira vista, ou de longe, parecia, sim, isto que os franceses chamam de "ours". Um urso. Sempre metido consigo mesmo, fabricava o seu próprio mel. Espécie de ruminante, que se alimenta da matula que traz de nascença. Fugia da cilada sentimental, ou da emoção, pelo atalho do "sense of humour". Se sabia manejar a lâmina da ironia, nunca a usava a seco. Sempre compensada por uma tirada de forte teor humano. Horror ao pedantismo, à afetação. Não impostava a voz, nem a pena.
Talvez tivesse qualquer coisa de bicho, esse homem sensível à beleza fugaz deste mundo. Na sua relação com a natureza, não havia intermediação de ordem intelectual. O coração da vida pulsava no seu coração. Alerta nos cinco sentidos, ser instintivo, sólido bom senso, era capaz de estranhar. No sentido em que se pergunta de um cão se ele estranha. Guardava distância do poder, mas não julgava o poderoso pela aparência. Independente diante do grande e do pequeno.
Era um ser livre e lírico. Seu claro olhar de sabedoria espiava o Brasil com algum tédio. Paizão sem jeito, que trata mal as crianças e os pobres. O sentimento de justiça sem apelo ideológico. Muito antes do modismo conservacionista, pleiteou a causa do macaco carvoeiro e de todo e qualquer ser ameaçado. Tinha uma disponibilidade fundamental para ver e escrever. Um senhor poeta, o cronista Rubem Braga.
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