Vencemos os últimos dez meses dizendo cobras e lagartos com 2020. Repetimos aos quatro ventos que este tem sido o pior ano da história, o das nossas maiores angústias. Tudo por conta da pandemia. Mas, olha quem finalmente está se despedindo e, em vez de dizermos adeus Ano Velho, insistimos no desdém: já vai tarde, vaza!
Neste ano carregamos a sensação de que perdemos os vínculos com o mundo. Mas se a nossa medida para julgarmos 2020 for a pandemia, é preciso revermos os conceitos. Sabemos que, enquanto o imunizante não for liberado, a pandemia persistirá; irá muito além das festas de fim de ano, continuará por alguns meses em 2021.
Ou será que 2020 ficará como o ano que não se acabou? O fato é que acusamos tudo pelas nossas dores, mas nos esquecemos de falar das nossas responsabilidades. Sem querer ser a de palmatória do mundo, muitas pessoas parecem não ter consciência da gravidade do que estamos vivendo e acreditam-se invulneráveis.
Uma frase de Nietzsche diz algo como “sabemos que sofremos, mas não por que sofremos”. Sem fazermos a nossa parte, 2020 vai embora, mas continuaremos vivendo o pior ano, o pior mês, o pior dia, a pior hora.
Diga-se o que quiser de 2020. Mas, é inegável, porém, que foi o ano em que recebemos muitos aprendizados para o crescimento humano. Nunca convivemos tão de perto e coletivamente com os conceitos e a importância dos sentimentos nobres.
A pandemia nos obrigou a revisitar nossa humanidade. O primeiro sentimento foi o da coragem. Se chegamos até aqui, somos sobreviventes de momentos que pareciam não ter saída. Tivemos e temos a coragem de enfrentarmos o que nos restava viver dessa dor.
Muitos de nós nem percebeu que neste ano tão dramático a generosidade esteve em alta. Quem é realmente grande, foi generoso; ofereceu aos mais vulneráveis o que lhes faltava. Aprendemos que compaixão pode até ser uma palavra de aparência cafona, mas nunca foi tão essencial. Seu apelido é empatia.
Os tolerantes acumularam conhecimento. E, no movimento contrário, os intolerantes ficaram expostos. Aprendemos que a temperança não é a mesma coisa que privação da alegria e do prazer. É viver com moderação.
Finalmente, foi um ano em que pudemos sentir na pele que a solidariedade será sempre maior que o egoísmo e que o amor é quem continua a comandar as nossas relações. Ah, sim, a gratidão é um prolongamento da alegria de quem recebeu solidariedade.
Quem aprendeu com a dor, plantou uma árvore. Do contrário, o sofrimento com a pandemia terá sido uma experiência inútil que nos acompanhará em 2021 e por toda a vida. Feliz Ano Novo!
Cícero Belmar
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