segunda-feira, junho 27

O morto sem méritos

Heinrich Feistel
O primeiro morto que vi de perto era um vizinho gorducho, quarentão, lento, e eu me lembro da perplexidade que senti. Não conseguia compreender, com meus dez anos, como a um personagem tão inexpressivo podia acontecer algo tão extraordinário. Era como se ele fosse um usurpador, um aproveitador de glória alheia.


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Um sonetista sempre volta ao local do crime, às vezes com intenções ainda piores.

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Nada mais líquido e certo que os perdigotos de um chato.

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Segundo aquele autor fescenino, bolinar é um dos trabalhos manuais que maior satisfação trazem aos seus praticantes.

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Na segunda edição da antologia de poemas concretistas já se notavam algumas rachaduras, provocadas pelo tempo e pelas pragas dos poetas românticos.

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Nós, que temos essa pretensão de escrever, poderíamos perdoar Shakespeare se ele não tivesse sido tão insuportavelmente brilhante.

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Se você tiver oitenta anos, não causará surpresa se disser que ainda faz poesia. Mais fácil será estranharem como você continua respirando.

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Sonha ainda com loiras longilíneas e langorosas e lança-lhes olhares plenos de deslavadas aliterações.

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Nenhum modernismo resiste à tentação de se tornar clássico.

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Sonetos qualquer um faz, mas ninguém nunca nenhum como os de Luís Vaz.

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Se a Morte for mesmo uma ruiva fatal, que venha enquanto eu tenho ainda algum impulso vital.

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Hoje que evito roçá-los com meus dedos de velho, recordo-me do tempo em que a brisa morna eriçava os pelos de minha poesia.
Raul Drewnick

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