quinta-feira, setembro 22

Lances poéticos

O benemérito doou cinquenta sacos de cimento para a antologia de poemas concretos.

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Se chorar é o que você faz melhor, não se poupe. Aperfeiçoe-se.

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Justiça se faça aos poemas concretos. Eles acabaram com toda uma raça de esganiçados declamadores.

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Desafortunados foram aqueles poetas românticos que passavam dos trinta anos e ainda não tinham morrido de amor. Onde quer que estivessem, com seus rostos rubicundos, seus ventres inflados e suas calvas lustrosas, eram recebidos com as gargalhadas e o desprezo que merecem todos os farsantes.

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Atingido pelas gotículas poéticas lançadas pela declamadora, o espectador da fileira da frente puxou o lenço e, encantado, viu-o transformar-se em gracioso e sedento passarinho.

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Quando o poeta concretista deixou cair seu poema, formou-se uma nuvem de areia no auditório.

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O defunto parecia aflito, como se estivesse esperando ainda uma segunda opinião.

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Chega aquela época de vida em que nossos olhos cansados, se forem postos diante da beleza mais uma vez, não se importarão se for a última.

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No fim da vida, o único pecado que ele ainda cometia com frequência eram os sonetos.

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Se para morrer for necessário algo além de conformismo e omissão, tem medo de fracassar, como lhe aconteceu tantas vezes com coisas muito menos importantes.

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Não existem chatos bissextos.

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Se não temos de Shakespeare nem as palavras nem a voz, o que há de a literatura querer de nós?
Raul Drewnick

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