Construí uma cabana no estilo indígena e comecei a cultivar a terra. Não era uma tarefa fácil, ali no meio da mata, mas de todo modo pus mãos à obra.
Logo descobri que não era o único homem branco da região; uma hora em meu cavalo me levou à casa do vizinho mais próximo, um certo doutor Cranwell. A aldeia, povoada por camponeses índios, ficava a vinte quilômetros, e o armazém, a vinte e nove. Próximo ao armazém, duas famílias americanas tentavam a sorte; além de se dedicarem à agricultura e à compra e o embarque de carvão e lenha produzidos pelos índios locais, cada uma delas mantinha um bazar de aspecto miserável.
O ranchito do doutor Cranwell situava-se numa colina no meio do mato, assim como o meu. Ele vivia sozinho em um bangalô de três aposentos, construído da forma mais rudimentar. Eu não sabia por que ele fora se enterrar naquela mata e nunca procurei saber. Não tinha nada com isso.
Ele se dedicava à criação de animais, ou ao que ele chamava de criação. Tinha duas vacas, dois cavalos, três mulas e algumas colmeias. Os pássaros silvestres comiam as abelhas o tempo todo, pegando-as ao entrar ou sair da colônia. Isso limitava sua produção a um volume suficiente apenas para o doutor saborear um pouco de mel no café da manhã de vez em quando.
Seus vizinhos mais próximos eram duas famílias de índios, que viviam a pouco menos de um quilômetro de seu ranchito. Ele contratara os homens para o trabalho agrícola e as mulheres para o parco serviço doméstico.
O doutor Cranwell passava a maior parte do tempo lendo. Quando não se dedicava à leitura, deixava-se ficar sentado à varanda do bangalô, contemplando os milhares de quilômetros quadrados de selva que se estendiam à sua frente a perder de vista. Aquela mata era de um verde triste e poeirento, que só se iluminava durante quatro meses do ano, depois do fim da estação das chuvas.
Alguns agrupamentos indígenas, nenhum deles com mais de três famílias, espalhavam-se pela vasta região, e a única maneira de saber onde se encontravam era pela fumaça que podia ser vista, em determinadas horas do dia, pairando acima dos jacalitos ocultos.
Uma pessoa comum poderia ficar esgotada, quem sabe até perder o juízo, se não pudesse contemplar nada além daquela vasta extensão de floresta sombria. O médico, porém, gostava daquela paisagem.
E eu também. Podia passar horas contemplando aquela selva sem nunca me cansar dela. Na verdade, o que me interessava não era o que eu conseguia ver. Era poder imaginar os grandes e pequenos episódios que se desenrolavam naqueles matagais espinhosos lá embaixo. Não havia um minuto de descanso na eterna batalha pela sobrevivência, pelo amor. Criação e destruição... Eu não tinha bem certeza, mas imaginava que o médico sentia a mesma coisa. Só que ele nunca disse isso.
Minha casa ficava na mesma elevação que a sua, embora um pouco mais abaixo. Eu estava bem mais longe dos vizinhos que ele. Só muito raramente a solidão me incomodava. Quando isso acontecia, eu selava meu pônei e ia visitar o médico, só para ver um rosto humano e ouvir a voz de alguém.
Uma floresta tropical é tão cheia de vida que é simplesmente impossível entregar-se à tristeza quando se é capaz de sentir todo o universo em cada pequeno inseto, em cada lagarto, em cada trinado de pássaro, em cada farfalhar de folhas, em cada cor e forma de flor. De vez em quando, porém, eu sentia um arrepio de medo e meu coração fraquejava. Era como estar sozinho num avião, rodeado de nuvens, com o motor rateando e sem instrumentos de orientação. Ou como estar sozinho num pequeno barco, longe da costa, sem nenhum pássaro à vista, num mar silencioso, com o Sol começando a declinar.
O médico não era de falar muito. Viver sozinho na mata tropical faz você ficar silencioso, embora rico em pensamentos. Não se passa um minuto do dia ou da noite sem que a selva lhe fale, seja com sua voz contínua, incessante, seja por seu eterno crescimento e decomposição. Fatalmente você chega à conclusão de que a vida só pode ter um sentido: “Aproveite-a enquanto ela durar e desfrute dela o máximo que puder, porque a morte está dentro de você desde o momento em que nasceu”.
Em minhas visitas, o médico e eu nos deixávamos ficar em nossas cadeiras de balanço por duas ou três horas sem que nenhum de nós dissesse uma palavra. Não sei por que, porém, isso nos contentava.
B. Traven, "O visitante noturno"
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