Como tenho o costume de fazer anotações, uso muitas vezes como marcador de página uma pequena ficha pautada, onde vou anotando detalhes ou os números de páginas onde há algo interessante, quando é um livro que por um motivo ou outro não quero rabiscar. (Quando é um livro comum, anoto tudo na última página em branco.)
Mas me acontece muito encontrar fotos, tickets de avião (nos livros que leio durante o voo), bilhetes, contas, canhotos de ingressos de cinema ou de shows, cartões postais, o escambau.
O websaite Abebooks publicou um levantamento feito com livreiros de livros usados do mundo inteiro, onde eles relatam o que acham nos acervos que vêm parar nas suas mãos.
Há a história de uma mulher que comprou um livro antigo num bazar, no Novo México, e encontrou dentro 40 notas de mil dólares. Essas notas, de uma série impressa pela última vez em 1934, valem mais até do que seu valor nominal.
Outro item valioso foi achado por um livreiro da Califórnia: um cartão de Natal com uma assinatura ilegível, que ele levou anos para identificar como sendo de L. Frank Baum, o autor de O Mágico de Oz. O cartão foi vendido depois num leilão por 2.500 dólares.
Alguns livreiros são mais honestos do que o normal. Uma livreira de Idaho achou cem dólares num livro e os devolveu à pessoa que deixara o livro em consignação. (Tenho certeza de que muitos leitores dirão: “Ah, não tinha que devolver! Se o dono do livro não viu o dinheiro, azar o dele!”)
Esses livreiros já acharam dentro de livros antigos uma receita médica datada de 1785, uma carta manuscrita por C. S. Lewis (o autor de Narnia), o texto integral de uma conferência astronômica proferida por alguém em 1895.
Há também registro de pequenos objetos encontrados entre as páginas, desde um dente de criança até um anel de ouro com um pequeno diamante ou uma tesoura ou uma camisinha não usada ou uma mecha de cabelo ou um biscoito de chocolate ou uma fatia de bacon.
Um livreiro de Michigan achou num livro sobre futebol um cupom de poupança no valor de 500 dólares, e ao contactar a família descobriu que o cupom estava perdido há onze anos, e eles tinham revirado a casa inteira à sua procura. O achado acabou custeando a entrada de uma das filhas, agora adulta, na universidade.
Um livro qualquer acaba se tornando às vezes um bolso de ocasião, um pequeno cofre, uma cápsula do tempo onde a gente se depara com o estranho, o bizarro, o inesperado. Alguém poderia organizar uma antologia de contos com esse tema. Dou esta ideia de graça.
Braulio Tavares
Nenhum comentário:
Postar um comentário