sexta-feira, janeiro 20

Autografar

Contaram-me há muitos anos (o pior é que já não me lembro quem) que Miguel Torga não fazia dedicatórias nem autografava livros para ninguém e que um dia abriu uma excepção para Mário Soares, mas depois de não conseguir fugir de o fazer...Também me contaram (e desta vez sei quem foi mas não posso dizer) que Saramago, que recebia dezenas de ofertas de livros em todo o lado aonde ia, incluindo festivais no estrangeiro, deixava muitos deles no quarto de hotel quando se vinha embora, tendo, porém, o cuidado de arrancar a página em que o autor tinha escrito a sua dedicatória ao nosso Nobel. Gente sábia... É que, segundo sei, autografar pode ser um perigo: às vezes, encontram-se livros autografados inesperadamente nos sítios menos próprios, e conheço três histórias sobre esta realidade. A primeira é a de uma autora que, convidada a representar Portugal numa feira internacional, verificou que alguns dos seus livros expostos no pavilhão oficial estavam autografados para jornalistas e outras pessoas, chegando à conclusão de que a editora não os chegara a enviar e usara esses exemplares para oferecer à Direcção-Geral do Livro, que era quem tinha o expositor na feira. Por outro lado, sei de um autor que, à procura de um livro seu esgotado há muito, correu os alfarrabistas todos e encontrou um exemplar autografado e dedicado a um amigo muito próximo (que o vendera juntamente com outros livros numa altura de grande necessidade), o que valeu uma zanga entre ambos para a vida. E, por último, Nelson Ferreira Silva, que é sempre uma fonte de boas histórias, comprou recentemente num alfarrabista um exemplar da Crónica dos Bons Malandros, de Mário Zambujal, cujo frontispício dizia que fora oferecido por Paulo Moura e pertencia a Pedro Abrunhosa. Parece que se tratava mesmo do jornalista e do músico. E esta?

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