Durante minhas palestras, as pessoas costumam me fazer estas perguntas difíceis. Francamente não sei a resposta. De vez em quando, muito de vez em quando, uma história me chega pronta, prontinha, só faltando o polimento. É como se um santo (ou a tal musa dos gregos) baixasse e me soprasse o texto, parágrafo por parágrafo. O prazer é enorme, mas raríssimo. O santo vai embora depressa e nunca deixa o nome para ser reconvocado. Não adianta rezar ou fazer promessa.
Na vasta maioria das vezes, tenho que penar muito para escrever uma linha. Ralar de verdade. Com frequência, chego ao fim do dia sem produzir uma palavra sequer, submerso na terrível sensação de ter jogado o tempo pela janela, ter desperdiçado justamente o tempo, o bem mais escasso de que dispomos. Nessa hora, não choro, vou em frente. Insisto, exploro cantinhos da mente em busca de associações, reviro lembranças, faço conjeturas, leio livros que nada têm com a literatura, exploro becos sem saída, até que, de repente, abro uma trilha à qual me apego. Como me apego à mais tênue esperança. Nem sempre essa trilha me leva ao objetivo, e sou obrigado a recomeçar. O duro recomeço.
Um dia, no entanto, sinto ter achado o caminho. Parece que a cabeça necessita de uma massa crítica de exploração, divagação e dor para deflagrar o processo criativo. Assim, linha por linha, parágrafo por parágrafo, sujeita a revisões e cortes futuros, a história ganha forma, nem sempre aquela que imaginei. O fim nem sempre é filho do início. Abastarda-se ou virginiza-se no texto. Uma zorra.
Quer passar pela experiência? Tente imaginar uma história. Procure-a por aí, no ar seco deste inverno, ou a garimpe dentro de você. Lembranças da infância, quem sabe? Memórias de um amor perdido, talvez? Ponha as ideias no papel. Examine-as com senso crítico. Talvez você descubra um caminho mais fácil que o meu. Se descobrir, me conte, por favor. Bem depressa. Faz quatro anos que me desdobro para terminar um romance – e, até agora, só está começado.
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