Entre os benefícios de se ler ficção, o primeiro, por mais óbvio que pareça, é chegar a nos conhecer melhor. Proust, a quem hoje poucos negarão sua aptidão à ciência cognitiva, afirmava que cada leitor, quando lê, é o próprio leitor de si mesmo. Acrescentava que a obra do escritor não é mais do que uma espécie de instrumento ótico que este oferece ao outro para permitir-lhe discernir o que, sem esse livro, não seria capaz de ver por si mesmo. Entrar no universo dos romances é viver múltiplas vidas. Com um livro nas mãos se abre diante de nós um terreno para a experimentação de inúmeras circunstâncias. A biblioterapia é possível graças ao choque de identificação que se produz no leitor quando se vê refletido na história. Sentimos empatia por outras pessoas, outras formas de pensar. A leitura, além disso, é uma aventura intelectual trepidante. Para o Nobel de Literatura André Gide, ler um escritor não é só ter uma ideia do que ele diz, mas viajar com ele.
Quando lemos um texto literário inteligente e sedutor, o mundo se torna mais habitável
Resenhas de biblioterapia
— Remédios literários, de Ella Berthoud e Susan Elderkin. Um original e divertido livro sobre biblioterapia que fala do poder curativo da palavra escrita.— A leitura como plegária, de Joan-Carles Mèlich (sem edição no Brasil). Uma reflexão sobre a leitura e a escrita em 262 fragmentos filosóficos.
— Por que ler os clássicos, de Italo Calvino. O escritor nos lembra que os clássicos nunca deixam de surpreender e resistir ao tempo.
— Poema, de Rafael Argullol (inédito no Brasil). Um breviário contemporâneo erudito e sensível de reflexões sobre a condição humana e o discorrer do mundo.
— Intérprete de males, de Jhumpa Lahiri. A escritora indaga sobre as barreiras que personagens de diferentes culturas devem saltar em sua busca da felicidade.
— A morte de Ivan Ilitch, de Leon Tolstói. Um luminoso romance que na realidade é um poema capaz de nos reconciliar com nossa condição mortal.
— Pequeno fracasso, de Gary Shteyngart. Depois de se mudar com sua família a Nova York, o garoto judeu russo Igor se transforma em Gary, um personagem que narra a experiência de viver dividido entre dois países que são inimigos.
— Doce Canção, de Leila Slimani. Disseca as circunstâncias de um crime e lança luz sobre as contradições da sociedade atual.
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