Acostumei-me com ele em casa e me esqueci de conhecê-lo.
Agora que sua ausência me pesa, é que vejo como era necessário tê-lo conhecido.
Lembro-me dele. Lembro-me bem em poucas ocasiões.
Um dia, na sala, ele me puxou a barra do paletó e me fez examinar seu pequeno dedo machucado. Foi um exame rápido.
Uma outra vez me pediu que lhe consertasse um brinquedo velho. Eu estava com pressa e não consertei. Mas lhe comprei um brinquedo novo.
Na noite seguinte, quando entrei em casa, ele estava deitado no tapete, dormindo e abraçado ao brinquedo velho.
O novo estava a um canto.
Eu tinha um filho e agora não o tenho mais porque ele foi embora. E este meu filho, uma noite, me chamou e disse:
Fica comigo. Só um pouquinho, pai.
Eu não podia; mas a babá ficou com ele.
Sou um homem muito ocupado.
Mas meu filho foi embora. Foi embora e eu não o conheci.
Oswaldo França Júnior, "As laranjas são iguais"
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