À tarde, pelas sete horas, temos outra ilha à vista, sob grossas nuvens amontoadas, tudo da mesma cor, nuvens e ilha. Ao largo um pôr do sol dramático enche o horizonte, doira os bordos dos cirros e irrompe pelos interstícios caindo em feixes sobre as águas. Assisto ao desenlace deste drama mudo e extraordinário, quando ao mesmo tempo o ar se incendeia cor de cobre e na vasta solidão de estanho correm jorros de oiro fundido imitaria na pele . Já no horizonte outra ilha se estende em biombo, baixa e enorme, toda da mesma cor . Mas o que me interessa, é a luz que mudou, é o céu que mudou, - a luz delicada dos Açores, o céu dos Açores carregado de humidade e forrado de nuvens que um pintor imitaria na tela com pequenos toques horizontais cor de chumbo, carregando-os e amontoando-os cada vez mais até à linha do horizonte. E é esta luz que me acompanha e nunca mais me larga, a mim que vivo de luz límpida, e que acordo todas as manhãs com o pensamento na luz...Ilumina S.Miguel (13 de Junho), coada pelo céu pardo, e Ponta Delgado estendia à beira da doca, com um grande monte violeta ao lado. Ilumina na madrugada de 15 a Terceira, ao pé dum pinheiral e duma fortaleza, e atabafa-me quase até ao fim da viagem -céu inalterável, névoa que se chama alforra, luz discreta em que as coisas perdem a importância e o relevo.
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