Vladimir Volegov |
Gostaria que meus lábios, como se fossem uma engenhoca eletrônica, travassem nesse boa-noite e ficassem a repeti-lo dias e dias, meses e meses, e anos, muitos, muitos. Que o fenômeno fosse tão assombroso e repercutisse tanto que viessem ver-me especialistas de várias áreas, linguistas, pesquisadores paranormais, fisiólogos, exorcistas.
Que multidões se reunissem e que um empresário astuto resolvesse cobrar ingressos e que a procura tumultuada e febril obrigasse a venda a ser feita pela internet. Que o número de acessos na rede ultrapassasse três milhões em seis meses e que os advogados do meu empresário acionassem na Justiça qualquer pessoa que em qualquer parte do planeta, e em qualquer idioma, dissesse boa noite. Que aparecessem impostores tentando impingir seus bons-dias e boas-tardes como se fossem iguais ao meu boa-noite. E que todos fossem humilhados e condenados à execração.
Que repórteres de todo o mundo tentassem me entrevistar e que eu, restrito à minha doce tarefa, só pudesse dizer-lhes boa noite, boa noite, boa noite.
Que lançassem sobre mim a suspeita de ser robô e me examinassem à procura de parafusos e placas de metal. Que, quando ninguém mais imaginasse ser possível desvendar o mistério, eu certa madrugada repentinamente gritasse as duas palavras e acrescentasse a elas um nome que depois muitas mulheres fascinadas por um tardio romantismo diriam ser o delas, camuflado.
E que eu tivesse a ventura de dizer e continuar dizendo essas três palavras até o último dos meus dias: boa noite, ********.
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