Nessa época do ano, com notícias de tiroteios em escolas norte-americanas, chuvas torrenciais no Sudeste e sobre o prosseguimento do golpe de estado brasileiro, fatos importantes e que muito dizem dos rumos das coisas infelizmente passam eclipsadas nos noticiários. Aqui no PublishNews, no entanto, a nota não passou despercebida: na Alemanha, país referência em mercado editorial, foram perdidos 600 mil compradores de livros só no primeiro semestre de 2017.
A notícia segue com as motivações e os números, e termina com a conclusão de que tudo se deu por conta de novos tipos de entretenimento, que por sua vez se somaram à redução no número de livrarias no país, algo que também vem ocorrendo em nações mundo afora.
Pergunto-me se as políticas alemãs à leitura são eficazes e obviamente fico muito curioso para conhecer as políticas públicas para o mercado editorial. Tirando isso, porém, se acende o sinal de alerta, e esta é a hora para se especular: 600 mil leitores num semestre? Quer dizer que o livro, o produto livro, perdeu leitores? Que está definhando a essa velocidade?
Não dá para ser catastrofista e abraçar o apocalipse sobre a leitura do livro e que estamos a assistir seu réquiem. Isso já ocorreu com o surgimento do e-book, porém passados alguns anos nada aconteceu, e até o livro reagiu, apesar das crises econômicas sempre tão presentes.
Penso que o melhor é entendermos as dinâmicas em torno da leitura, e nessa altura falo da leitura em qualquer ambiente, não mais em digital ou papel. Se as redes sociais roubaram nosso olhar para leituras cada vez mais curtas e convidativas à interação – numa espécie de frenesi publicacional em que todos viraram jornalistas e repórteres, as crianças inclusive –, a leitura tradicional, longa e medidativa, que nos convida a reflexões e aprofundamentos, ao que parece, caminha para um gueto de elite pensante.
Será isso, então? Será que a leitura qualificada ficará restrita às masmorras intelectuais e cultas? Será que a queima dos livros de Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, estava predizendo o que ocorre? E que nos restará somente a memória de párias sociais por esperança?
Mas vamos por outro lado. Lado que entende que por trás da comunicação e da leitura há nada mais do que seres humanos, e seres humanos que, embora se rendam temporariamente à pura necessidade da sobrevivência, sabem que ler bem é essencial para enfrentar e mudar o mundo com o que de melhor o homem já produziu: a tecnologia e o conhecimento.
Não tenho receita, mas se a Alemanha tem algo tão escabroso, é pacífico que um esforço consciente precisa ser empreendido para qualificar esses leitores perdidos, ou entender para onde estão indo e tentar alcança-los, por mais que o mercado, como o dos games, não goste.
Posto está é que a leitura ganhou múltiplas e inúmeras possibilidades, e que o mercado mais apressado e agressivo, como daqueles que vivem dos minutos digitais alheios, está ganhando a batalha. É preciso, portanto, reagir, e reagir como editores, como livreiros, bibliotecários, escritores, professores e como líderes pensantes.
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