O que chama atenção em seu escrito, além de outros aspectos biográficos do Bruxo do Cosme Velho, é a relação já escrita por outros autores europeus (Maxime du Camp, Jean-Paul Sartre, Thomas Mann e Carlos de Laet) que existe entre enfermidade, doença, angústia e criação literária e artística. Como exemplo, aqui no Brasil, encontramos na pessoa do Aleijadinho, Machado de Assis e Mário de Alencar, filho do nosso José de Alencar.
A criatividade parece surgir desde a infância, da condição precária do ser humano, sua angústia frente a possibilidade de abandono além do destino inexorável de ser mortal, finito, limitado. Os escritores em sua maioria extraem da percepção mais aguda dessas dores humanas e são capazes de descrever estados psíquicos de uma maneira muito profunda.
A melancolia, a tristeza da condição patológica, a vivência concreta de mortalidade, todos esses fatores ficam muito claro na escrita de Silviano Santiago: “A vivência da alma em recolhimento, leitura e reflexão se reproduz— para ele – numa perfeita cena de família, em tudo por tudo igual à que se encontra representada à exaustão e realisticamente na pintura pequeno-burguesa europeia e nacional do século XIX.”
Já no começo de seu livro, Santiago lembra o impacto que causou ao escritor católico Paul Claudel o ditado popular que diz: “Deus escreve direito por linhas tortas”. Logo escreve Silviano: “O escritor francês se regala com o achado carioca que vira chave mestra na sua visão teológica do mundo. Deus escreve direito por linhas tortas, humanas demasiadamente humanas. Claudel acreditaria que Deus escreve as vidas tortas de Aleijadinho, Gustave Flaubert, Machado de Assis e Mario de Alencar?”
Fica a pergunta, prezado leitor: as dores humanas são a base da criação literária, concorrendo desse modo para o ato civilizatório? Penso que sim. Convido-o a ler o livro de Silviano Santiago!
Carlos Fino
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