Pausa no trânsito de veículos para assim dar espaço a pedestres ávidos por livros, leitura, música, teatro, cinema e gastronomia.
Uma multidão estimada em 80 mil pessoas respondeu à convocação, já incorporada ao calendário cultural da cidade, para a celebração da 11ª Noite das Livrarias.
Um acontecimento de características singulares, convocado pelo governo da cidade, aliado à Fundación El-Libro (organizadora da Feira do Livro de Buenos Aires), à Cámara Argentina de Papeleros, Libreros y Afines (Capla), à Federación de Comércio e Industria de Buenos Aires (Fecoba) e à Asociación de amigos de la Avenida Corrientes.
Livrarias lotadas de curiosos compradores em clima de feira do livro vivem um momento especial. Durante seis horas, das 18h às 24h, as lojas recebem um público surpreendentemente relaxado, muito mais atento às capas e conteúdos do que a excepcionalmente improváveis intromissões de amigos do alheio.
O asfalto está literal e literariamente tomado por uma maré humana formada predominantemente jovens, casais com filhos, casais sem filhos, homens e mulheres solitários ou não, todos eles sob o denominador comum do encontro com livros e autores.
Além de contar com infinitas promoções do tipo “só hoje”, a jornada está apimentada por atividades programadas em palcos chamados de Livings situados no meio da avenida, onde o visitante pode assistir a saborosos bate-papos com autores consagrados defronte para espectadores civilizadamente sentados em cadeiras providenciadas pelos organizadores.
Oficinas de micro-histórias, leitura de poesia em bares, uma “jam session” de escrita com improvisação ao vivo, mesas para jogar Go e Xadrez são apenas algumas das concorridas e motivadoras atrações.
Não bastasse a originalidade das propostas, tem até camelôs no pavimento vendendo livros de produção independente numa espécie de lado B desta noitada.
Buenos Aires obteve em 2014 o título de cidade com mais livrarias por metro quadrado outorgado pelo World Cities Culture Forum.
Enquanto a Unesco recomenda uma livraria para cada 10 mil habitantes, a city portenha apresenta algo em torno de uma livraria a cada quatro mil habitantes
Mas, nem tudo é o que parece. À boca pequena, os livreiros lamentam a queda 30 a 40% nas vendas anuais se comparadas com anos anteriores.
De qualquer forma, uma lufada de ar e dinheiro fresco fez vendedores sorrirem e se reencontrarem com quem dá sentido ao seu trabalho: o leitor consumidor.
Quem é do ramo e nos leu até aqui, claro que está pensando em como promover um evento de estrutura similar no Brasil.
Diferente das feiras e festivais literários, um evento que possibilite o protagonismo do varejo do livro, estimule a leitura e beneficie o consumidor.
Então Poder Público e iniciativa privada. Vamos conversar?
Bernardo Gurbanov
Nenhum comentário:
Postar um comentário