Pelas ruas desertas de San Miguel del Milagro, algumas mulheres envoltas em xales caminhavam na direção da igreja, atendendo aos chamados da primeira missa. Havia também outras mulheres que varriam as ruas poeirentas. Longe, tão longe que não se entendiam suas palavras, ouvia-se o clamor de um pregoeiro. Um desses pregoeiros de vilarejo, que vão de esquina em esquina gritando a descrição de algum animal perdido, de um menino perdido, de alguma moça perdida... No caso da moça a coisa ia mais longe porque, além da data do desaparecimento, era preciso dizer quem era o sujeito suspeito de tê-la roubado, e para onde havia sido levada, e se havia reclamação ou abandono por parte dos pais. Isso era feito para que todo mundo ficasse sabendo o que acontecera, e para que a vergonha obrigasse os fugitivos a se unirem em matrimônio... Com relação aos animais, era obrigação do pregoeiro sair para procurá-los quando o pregão descrevendo o animal não desse resultado, ou o trabalho não seria pago.
Conforme as mulheres se afastavam rumo à igreja, ouvia-se melhor o anúncio do pregoeiro, até que, parado numa esquina, formando uma concha com as mãos, lançava seus gritos agudos e afiados.
— Alazão trigueiro... Sete palmos de altura... Cinco anos... Orelhano... Anca marcada... Ferrado com um S... Bom de rédea... Extraviado anteontem no potreiro Hondo... Propriedade de Dom Secundino Colmenero... Vinte pesos de alvíssaras a quem o encontrar... Sem perguntas...
Esta última frase era longa e desafinada. Depois ele ia para outro canto e tornava a repetir o mesmo estribilho, até que o pregão se afastava de novo e se dissolvia nos rincões mais distantes do povoado.
Quem exercia o ofício dessa forma era Dionisio Pinzón, um dos homens mais pobres de San Miguel del Milagro. Morava num casebre quase em ruínas no bairro do Arrabal, com a mãe, doente e velha mais por causa da miséria que por causa dos anos. E, embora a aparência de Dionisio Pinzón fosse a de um homem forte, na verdade estava lesado, pois tinha um braço entrevado sabe-se lá por quê; fosse como fosse, aquele braço o impedia de desempenhar algumas tarefas, como o trabalho de pedreiro ou de roceiro, e que eram as únicas atividades que havia no povoado. Assim, ele acabou não servindo para nada, ou pelo menos para conseguir outra coisa além da fama de lesado. Dedicou-se então ao ofício de pregoeiro, que não exigia o recurso de seus braços, e que ele desempenhava bem, pois tinha boa voz e boa vontade.
Não deixava nunca um rincão sem o seu clamor, não importa se trabalhando por encomenda ou buscando a vaca pelada do padre, que tinha o péssimo costume de escapar para o morro cada vez que via a porteira do curral da paróquia aberta, o que acontecia com demasiada frequência. E, mesmo quando aparecia algum desocupado que ao ouvir a notícia se oferecesse para ir atrás da maldita vaca, havia ocasiões em que o próprio Dionisio se obrigava à tarefa, ganhando como recompensa algumas poucas bênçãos e a promessa de receber no céu o pagamento pelo seu trabalho.
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