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No início, quando a literatura em nós é ainda só um projeto, nós nos dizemos, como incentivo: escrever, escrever, escrever. No meio do caminho, nossa voz já não é tão resoluta: escrever, escrever. E, no fim, como náufragos jogados ao mar, insistimos ainda, mais como uma súplica do que como uma esperança: escrever.***
O escritor novato, quando atinge o estágio de escrever bem, descobre que é aí que o verdadeiro trabalho começa. É hora de esquecer o advérbio bem e aprender a escrever, só escrever. Escrever bem é habitualmente sinônimo de ser maçante. O jovem escritor há de desconfiar da facilidade. Quando se fala de uma obra de arte, dificilmente a primeira isca lançada trará o melhor resultado. Na literatura, como em tudo na vida, há de haver algo amargo, doído, uma escavação que deixe ao menos um pouco de sangue à mostra nos dedos.
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Comparado a outras atividades, o ato de escrever me parece quase uma distração. Invejo os lavradores, que tiram frutos da terra, e, entre os artistas, admiro os pintores e os escultores, que mexem com substâncias, com coisas tangíveis, que as transformam. Os escritores mexem em quê? Respondo por mim: em nuvens, em abstrações.
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Minha ideia, há algum tempo, era escrever menos, para escrever melhor. Agora é parar de vez, para não escrever pior ainda.
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E chega um dia em que escrever é só escrever. Você não está mais ali, a alma também não. É uma transação da qual participam apenas a sua caneta e o seu bloquinho. Nesse dia, você deve aceitar a imposição do tempo e dizer ao menino, que por acaso tem os seus olhos e o mesmo nome, que é hora de desistir, embora ele olhe para você com o ressentimento dos traídos.
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Há muitos modos de ser um escritor. O melhor eu não sei, porém o pior é escrever por escrever.
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A maioria dos que vivem para escrever não vive de escrever.
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Escrever é uma atividade com a qual nos cansamos e maçamos os outros.
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