quinta-feira, abril 19

Dormir em uma livraria em Paris

Em 1919 Sylvia Beach fundou a Shakespeare and Company, a livraria mais famosa de Paris, primeiro na Rue Dupuytren e depois na Rue de l’Odéon. Fez isso com o objetivo de que escritores estrangeiros e leitores encontrassem na capital francesa novidades em inglês e um lugar de reunião. Também foi editora, e entre seus maiores riscos (ou, melhor dizendo, conquistas) ficará para a história ter editado o Ulisses, de James Joyce. Beach morreu em 1962, e o legado e o nome da livraria foram adquiridos por George Whitman, que a transferiu para sua atual localização, no Bairro Latino, ao lado do Sena, à sombra da Notre Dame.

Ainda hoje tem uma cama no piso de cima, talvez como emblema de que foi durante anos refúgio para todo tipo de escritor, trompetista, notívago e poetas sem obra que pernoitaram nela, convertendo-a por momentos em uma hospedaria digna de Dickens. Segundo confessou Whitman ao escritor Jeremy Mercer quando escrevia o livro Time Was Soft There: A Paris Sojourn at Shakespeare & Co, a livraria havia alojado mais de 40.000 pessoas!


Interior de La Librairie, antiga livraria transformada em suíte no Marais
Pois bem, que este preâmbulo sirva para constatar que hoje, quase cem anos depois, a Shakespeare and Company ganhou concorrência em sua faceta de albergue. Porque em Paris existe outra livraria na qual se pode pernoitar, seja a pessoa artista ou não: La Librairie. Trata-se de uma das duas acomodações em operação pela Paris Boutik, um novo conceito de hotel idealizado por David Lecullier, rosto visível (com outros dois sócios) de um projeto que está dando o que falar e que desperta admiração em clientes (basta ver suas pontuações e comentários na Internet) e em revistas especializadas de todo o mundo.

A ideia é restaurar estabelecimentos tradicionais que tenham ficado em desuso e transformá-los em locais de hospedagem. “As lojas de Paris fazem parte do caráter da cidade, lhe dão personalidade, e nos desagrada vê-las desaparecer. Decidimos convertê-las em suítes conservando sua essência, para assim valorizar os bairros e propor uma experiência parisiense única”, diz Lecullier. Para levar adiante a restauração dos espaços ele contatou Aurélie Cattelain e Clément Karam, do estúdio de design de interiores CKA.
La Librairie

A livraria da Rue Caffarelli (que em outros tempos foi um sebo) é um espaço muito acolhedor, voltado para a calçada. O hóspede dorme e vive em uma grande biblioteca, com cerca de 4.500 livros (muito bons, aliás), na qual todo apaixonado pela leitura e sem rumo encontrará o norte. Também há todo tipo de serviço (máquina de café, pia, minibar gratuito) em uma área interna de 45 metros quadrados pensada para até quatro pessoas. Bem equipado (ah, esse duplo colchão king size convida ao sono à primeira vista), o espaço está completamente protegido de ruídos externos e isolado graças a um vidro e cortinas especiais para garantir intimidade.

La Librairie fica no Marais alto, um bairro com atrativos constantes e clássicos da gastronomia, como o cuscuz do Chez Omar, o colorido Marché des Enfants Rouges e o refinado Café Charlot, os três na Rue de Bretagne. E também estabelecimentos delicados como Papier Tigre e Bibi Idea Shop, aplaudidas lojas de moda (Études, Cuisse de Grenouille, Commune de Paris, Mont Saint-Michel) e fromageries como Jouannault e La Petite Ferme d’Ines Slimania. Justo ao lado de La Librairie se situa a Galerie Glénat, especializada em quadrinhos.

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