A fila do autógrafo estava na calçada, acompanhando o desenho da loja, estreita e comprida. Todo mundo ali sendo fiel ao que, naquele momento, ficava: os amigos do mercado editorial, o bate-papo e as fotos com o autor, as risadas e – que saudade! – do pão de queijo que era servido sem miséria. Pão de queijo, aliás, que está no livro.
Lembrei dessa pergunta do livro do Marcelo, porque li recentemente duas notícias antagônicas. A primeira diz que as vendas de livros cresceram, em volume, 4,19% nas quatro primeiras semanas de 2018, em comparação com o mesmo período do ano anterior. A segunda mostra que, pela estimativa do Banco Mundial, os estudantes brasileiros demorarão 260 anos para atingir o nível de proficiência em leitura dos alunos de países “desenvolvidos” (aspas minhas, porque desenvolvimento é sempre relativo).
Estamos, players do mercado editorial e livreiro, sendo fiéis aos números ou aos leitores? Estamos realmente contribuindo para o desenvolvimento dos nossos pequenos leitores? O que fazemos, pessoalmente e profissionalmente, para estimular a leitura de fato? Essas perguntas parecem o morcego de Augusto dos Anjos: “que ventre produziu tão feio parto?”, esse de não conseguirmos mudar o quadro da leitura no Brasil. Livros são vendidos, mas não lidos.
Nas minhas conversas com o Marcelo sempre chegamos à conclusão de que estamos ficando velhos, cada vez mais chatos e com menos certezas. Uma das únicas que temos é a literatura. Nosso morcego mostra outras culpas, outras cagadas ao longo da vida, mas não essa de não ler ou não estimular a leitura. Onde está seu morcego agora?
Marcio Coelho
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