Em vão. O atleta não espera. Vai treinar no Passeio Público, nem notou que o chamavam, tem seus compromissos, quem sabe até o patrocinem e seja pago para não esperar. Tudo bem. Cansado, o velho volta a petrificar-se, precisa poupar bateria. Perdeu a corrida, desperdiçou um estímulo, mas fundamental é competir, e sobreviver talvez seja só isso, insistir em participar, questão de teimosia.
Nada feito. Dois ciclistas voam por ele, e depois um guri de skate, uma moça com fones de ouvido, e três caras de regata branca, calção justo e aspecto militar, todos trotando. O velho tenta acompanhá-los, se fazer ouvir e enxergar, acelera, freia, acelera, e muda de direção uma vez, e outra, e mais outra, direita, esquerda, direita, e corre pra lá e pra cá atrás dos moços, e atrás até de cães, borboletas, drones e aviõezinhos de papel, amigos e dispositivos imaginários. Pede que o esperem, e já nem sei se está bêbado, confuso, senil, esperançoso ou otimista, tanto faz, pois o resultado é sempre igual: ninguém o espera, e nem eu, que passo devagar e não quero ouvi-lo.
A despeito de tais fracassos, a vida segue e os treinos se sucedem, assim como os corredores. Cada qual com seu cronômetro. No fundo, nada muda, tudo está sob controle, as instituições preservadas, é o que celebram por aí, é só verificar. As tirivas matraqueiam nas paineiras do Largo Bittencourt e escavam suas bagas, lançando sementes voadoras por toda parte. Os alfeneiros estão de novo roxos e pensos, maio acabou, e as últimas florações das árvores-da-china murcharam. Tudo certo.
Preocupado, vou ao banco, mas registro que sua porta giratória continua funcionando à perfeição, comendo e cuspindo, sem distinção de gosto, investidores e inadimplentes, assalariados e desempregados, clientes e contínuos. Para um banco tudo é saboroso, podemos serenar. Do céu, nos vigiam os helicópteros; na terra, as manifestações avançam em círculos. No ar, já se vão esvanecendo todas aquelas coisas belas e misteriosas com que jamais sonharão os nossos inúteis sistemas de elucidação do mundo.
Tudo vai bem. E, no entanto, no meio da ciclovia, um velho pede que o esperem.
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