Edmund Adler |
Tentava consolá-la, não perdesse a fé em Deus, todos nós estávamos esperançosos de que um dia ela voltasse a andar com as suas pernas incansáveis, os passos seguros, dando vida ao corpo. Os dias voltariam ao ritmo normal, sua voz esbanjando afeto pelo apartamento, de suas mãos, até certo ponto divinas, chegariam até à mesa as comidas deliciosas, doces e bolos com confeito, como ela gostava de fazer para os dois filhos.
Como não lembrar os ensinamentos que na infância a mãe tanto lhe dera?
“Menino, já para dentro que vem o vento ventoso Levado, levando cisco! Menino, já para dentro! Boa romaria faz quem em sua casa está em paz”. E essas adivinhas: O que é, o que é, o ano todo no deserto o mais quente é? Responda certo, menino esperto. Como esquecer essa de pura carícia: Da noite o beijo. A melhor sombra de dia. Quem é?
Em tudo os dias tinham suas mãos zelosas. Colocava nos vasos aquelas rosas, como sonho na manhã esbanjavam pelos ares ternura. Davam vida à máquina de costura suas pernas ativas. Os bordados, beleza tecida por dedos cativantes, sempre admirados por quem visse.
Nada era pior do que saber que a mãe não voltaria mais a andar. O tempo usurpava sem dó a beleza da vida, embora não houvesse revolta enquanto durava a agonia. O amor por ela dobrava porque como filho ele sabia disso.
Cyro de Mattos
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