Leitura, hoje, mais um fim
Talvez pela multiplicidade de opções de entretenimento, noto que a leitura, ao contrário do tempo no qual me alfabetizei, é considerada mais um fim do que um meio. É como se, tendo aprendido a ler, não precisemos ler nunca mais, a não ser "utilitariamente". Comigo aconteceu diferente. Assim que me vi capaz de ler, aos seis anos, foi como se o mundo inteiro se abrisse para mim. Não havia a facilidade que o grande número atual de bibliotecas oferece, mas pude sair diretamente da cartilha para os livros de aventuras, de piratas, de Tarzan, todos da coleção Terramarear, que eu obtinha trocando-os por certa quantidade de embalagens do Café Jardim. Parece-me que hoje não se tem essa visão, e aprender a ler dá a impressão de ser um processo que se esgota em si mesmo. Aprende-se a ler, não se aprende a ler para. Aos professores, é óbvio, cabe estimular a compreensão de que a leitura, se é um instrumento valioso para se chegar ao universo da internet, é também, como sempre foi, uma via natural para os livros, cada vez mais interessante à medida que eles se tornam crescentemente digitais, com todos os recursos que isso significa.
Raul Drewnick
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