Comecemos com um exemplo maiúsculo: Gabriel Garcia Márquez. Além de criar o mundo simbólico de "Cem Anos de Solidão" e a mitologia humanista de "O Amor nos Tempos do Cólera", ambos romances caudalosos que exigem tempo e apego do leitor, deu o melhor de si numa noveleta chamada "Crônica de Uma Morte Anunciada", um exemplo de elegância estilística, engenho narrativo e verossimilhança ficcional.
Não que os outros livros de Márquez sejam ruins, mas é como se, em cada palavra do livro menor, ele pudesse concentrar todas as suas virtudes e toda a sua experiência de contador de histórias. Em cada nova leitura da "Crônica" é possível descobrir algo novo e inusitado.
O mesmo pode ser dito sobre escritores com estilos tão diferentes quanto Franz Kafka e Ernest Hemingway. Mesmo aqueles que entraram n’"O Castelo" e enfrentaram "O Processo" de Kafka, romances monstruosos no conteúdo e no tamanho, sentiram-se mais confortáveis nas poucas páginas d’"A Metamorfose", mesmo que elas relatem a desgraça de Gregor Samsa, o homem que um dia acordou transformado em inseto.
Já Hemingway, um superstar das letras, teve que escrever os milhares e milhares de parágrafos de "Adeus às Armas" e "Por Quem os Sinos Dobram" antes de reunir a serenidade necessária para escrever o mais belo e comovente dos romancinhos ocidentais: "O Velho e o Mar". E a lista de exemplos continua ao infinito: "Aura", de Carlos Fuentes; "A Morte e a Morte de Quincas Berro d’Água", de Jorge Amado; "O Alienista", de Machado de Assis.
Mas a grande verdade, para não transformar nenhuma “tese” em norma, é que muitos leitores se sentiriam desamparados sem os tijolões de "Ana Karenina" ou "Guerra e Paz", sem os sete volumes de "O Tempo e o Vento" e, mais recentemente, sem as 785 páginas d’"O Arco-íris da Gravidade", de Thomas Pynchon, e as mil e poucas páginas d’"A Fogueira das Vaidades", de Tom Wolfe.
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