O que Álvaro Moreyra não aprovaria é ver o jumento metido na refrega. Pertencendo à família do "equus asinus", o jumento, ou jegue, ou jerico, mereceu sempre do escritor toda a simpatia. Até carinho. Álvaro juntou ao longo dos anos uma valiosa coleção de burrinhos. De todos os tipos e tamanhos. De qualquer gênero e procedência. Arte popular, artesanato ou obra refinada de artista de fino lavor. O burro tinha na sua casa um altar.
Hoje, o grande amigo do burro, e em particular do jumento, é o padre Antônio Vieira. Xará do sermonista. A última edição de seu "O jumento, nosso irmão" tem quatro volumes e 1.200 páginas. Apóstolo do asno desde 1954, o padre cearense projetou um Memorial do Jumento e nele aplicou todos os seus haveres. Tem museu e biblioteca. Pioneiro da ecologia, é dele a "Oração do jumento". Sim, para ser piedosamente rezada. Fundou também o Clube Mundial dos Jumentos.
O clube divulga os seus dez mandamentos. O primeiro manda "reconhecer a própria burrice", condição sine qua para quem quer aprender qualquer coisa. Com ligações internacionais, os membros do clube recebem um diploma em latim. Com o lema "asinus asinum fricat", ao titular é conferido o ''jus universale et aeternum pascendi, ornejandi, excoiceandi, atque vacandi sine bronca aliorum animalium". Não respondo pelo latim.
O diploma vem assinado pelo "asinus maximus" – o padre Antônio Vieira. Também por um "asinus medius" e por um "asinus minor". Do Japão à Patagônia, o Clube do Jumento está hoje por toda parte. E nem precisa invocar o burrinho da gruta de Belém. Basta entre nós a farta literatura sobre o jegue, exemplo de humildade e fraternidade. Trabalha em silêncio e nada pede em troca. Sem ele o Nordeste seria um deserto. Donde se conclui que, virtude peregrina, a jumentalidade é um galardão. É preciso fazer por merecê-lo.
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