segunda-feira, maio 20

Estocolmo e outros pesadelos

Escreve duas páginas e já fica ofegante. Pergunta aqui, pergunta ali, mas Estocolmo é sempre mais adiante.

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Cada noite é maior a dificuldade para distinguir um fantasma falso de um fantasma de verdade.

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Aos dezoito anos eu já era mais tolo do que jamais seria. Só que ainda não sabia.

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Depois de três tentativas desistiu e assumiu o papel de ex-suicida.

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O predador sexual comprou uma boneca inflável com desempenho regulável e garantia semestral.

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Jogado ao mar, o gato comeu um peixe antes de se afogar.

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É um homem que reconheceria todos os seus defeitos, se tivesse algum.

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Não acredito em versões atenuadas do amor, expurgadas dos desesperos e das lágrimas.

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O amor ainda é a melhor forma de alguém testar os limites de sua tolice.

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Se a poesia não conseguir desenvolver em você pelo menos um início de tristeza, deixe-a para quem a mereça.

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Frases curtas têm a vantagem de às vezes conseguirem passar sem que as alcance uma crase.

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Pago o preço da idade. Palavras como amor e primavera já não aceitam minha carteirinha de poeta.

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O que tenho a dizer sobre a literatura é que venho lidando com ela há pelo menos seis décadas e de vez em quando posso gabar-me de algum progresso.

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Quando imaginou que eu pudesse estar duvidando de sua glória, o poeta começou a puxar recortes da gaveta, tão velha quanto ele, seu quarto e sua tristeza.

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Mudamos demais: até a gripe hoje nós compartilhamos pelas redes sociais.

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A meia dúzia de recortes que formam minha fortuna crítica definham numa gaveta que há décadas não é aberta.

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A sorte da literatura é que, ao contrário do que imaginei, ela nunca dependeu de mim.

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Eu poderia, sem sair de casa, conversar diariamente com um velho que se diz sábio, se eu me aturasse.
Raul Drewnick

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